Pensamento...

A vida é uma janela que se abre no sem fim do Tempo.

domingo, 31 de outubro de 2010

VIAGEM NO TEMPO

VIAGEM NO TEMPO
(Previsão para o ano 2060)



A nave desloca-se já a uma vertiginosa velocidade. É tripulada pelos astronautas Norberto Sá, Olímpio Marçal e Du-Bocage, todos especialistas que se complementam na ária das viagens espaciais, nomeadamente, no que diz respeito ao Norberto Sá , no tocante às promissoras descobertas das viagens no tempo, mas de que até ao momento não há conhecimento de experiências de vulto. Essa está nesta hora em curso na pequena nave que tripulamos. Descolamos há instantes do centro espacial de Alcochete. É visível entre nós uma boa dose de euforia mas também de ansiedade, apesar de confiantes no sucesso do empreendimento. Nesta altura trocamos impressões sobre a adaptação física e psíquica de cada um, tudo se mostrando em ordem, sendo certo que temos incorporado em nós um sistema de actuação de um sexto sentido (chamado de «Prévius») que nos permite prevenir e agir em situações de emergência ou inesperadas, com vertentes num factor de estabilidade e tranquilidade nossa.
A nave acaba de transpor o limiar do século XX, obviamente no sentido do passado, sendo o seu comportamento uma autentica simbiose entre o viajar no tempo e no espaço, com as implicações que isso trás a todos os níveis, mas previstas. É evidente que a estrada ou rota do passado tem um destaque especial. Acabamos de entrar em áreas de conflito que me interessam particularmente, a mim (Du Bocage), já que tenho a incumbência de toda a espécie de registos e ocorrências. Identificamos as guerras do Vietname e da Coreia e de imediato episódios da 2ª guerra mundial, não nos escapando o desembarque na Normandia, o combate do Pearl Harbur, a tomada de Paris  e os termos em que esta cidade encarou a presença do inimigo.
Hitler e Estaline não escapam à nossa observação e não é difícil ver-se neles psicopatas de corpo inteiro.
Nesta data e graças ao mencionado sistema «Previus», vislumbramos na América num rancho Texano, um catraio de sacola às costas e calças à golfe entrar para um luxuoso carro que o conduziria à escola. Deu para entender que esse miúdo viria a conduzir de forma lastimável os destinos daquele país nos começos do terceiro milénio.
Fazemos a primeira paragem na região de Madrid já depois de finda a brutal guerra civil de Espanha. Para tal utilizamos meios técnicos adequados, nomeadamente os que permitem furtarmo-nos pessoalmente ou mesmo a própria nave à visibilidade de terceiros, através de um sofisticado processo de desmaterialização, que abrange as nossas próprias pessoas…

…Sobrevoada Toledo o aludido sexto sentido (Previus) sugere-nos uma pronta passagem por Lisboa, onde assistimos ao Regicídio e logo ao fim da Monarquia. Não perdemos tempo, já que este é medido ao milímetro, e pomo-nos na peugada do século XIX. Aqui presenciamos cenários de interesse a nível nacional, nomeadamente as Constituintes e a revolta da Maria da Fonte, a convenção de Évora-Monte e reconhecemos figuras de vulto sobretudo no campo das letras.
A nação Francesa e os acontecimentos que aí decorrem nos fins do século XVIII levam-nos a apontar a nave  para aquele tempo e espaço. Como é fácil de entender as nossas deslocações são aleatórias, ora num sentido ora no outro, sem que isso tenha significado no nosso percurso que acima de tudo envolve não a área do Espaço, mas bem mais ambiciosa e significativa, a do Tempo. Isto para boa compreensão do nosso relato. É assim que assistimos à tomada da Bastilha, à decapitação dos reis de França e ao eclodir da revolução francesa e subsequentes campanhas Napoleónicas de que o nosso país não tardaria a sofrer consequências.
            É por esta altura que nos confrontamos com algumas dificuldades devidas sobretudo à evolução do idioma Francês, desajustado àquele que aprendemos no nosso tempo. Mas lá fomos ultrapassando as situações designadamente em termos de vestuário, mas que não nos ilibou de um certo ridículo em diversas situações, chegando a privar-nos de contactos para evitarmos contratempos.
Nesta estada em Paris que se revestia de particular interesse, aconteceram imprevistos, alguns a roçarem o picaresco. Acontecia por vezes algum de nós esquecer-se de desligar o sistema de desmaterialização, o que o colocava numa situação de invisibilidade, para aqueles com quem se cruzava. Foi assim que quando atravessávamos o Pigalle, o Norberto apanhar um grande encontrão de um cavalheiro que vinha em sentido contrário e que se mostrou deveras confuso por não ver o que é que o tenha abalroado , mas lá seguiu o seu caminho a vociferar,  a interrogar-se, decerto com os seus fantasmas. Situações como esta foram de resto frequentes e até desconcertantes, e de que francamente tiramos todo o partido.
Por esta altura, visionando a curta distancia o reinado de Luís XV, concordamos não ser prudente mais este pequeno salto no sentido do passado.
 Todos os recursos e nomeadamente combustível nuclear aconselham ao regresso, uma vez que um contratempo desta natureza poderia implicar uma paragem sem retorno, de que podemos imaginar as consequências: uma morte lenta no Espaço…

 Visitada uma vez mais Paris e respigando o ambiente da época (vão lá mais de 200 anos), apontamos a nave no sentido da península Ibérica e portanto do nosso País. Como a velocidade é vertigem e há uma serie de acontecimentos que decorrem na mesma época (fins do século XVIII) depressa sobrevoamos Lisboa  poisando na deserta área de Monsanto para mais garantido despiste.
Por esta ocasião governa o nosso País o rei D. José e nós, através do sistema «previus», já referenciado, apercebemo-nos de que acontecimentos de vulto vão passar-se, sobretudo na região da capital. É assim que assistimos à elevação da chamada «Passarola» no Terreiro do Paço por artes do padre Bartolomeu de Gusmão. É um acontecimento digno de ver-se. Para nós coisa absolutamente primitiva, claro. A nossa preocupação, como homens dos meados do século XXI em despistarmos a nossa aparência, sobretudo o nosso linguajar que, decorridos quase 300 anos, apresenta notórias diferenças, é grande, aconselhando-nos a sermos sóbrios no nosso falar, apesar de estarmos razoavelmente preparados.
Não tarda que na região de Lisboa ocorra uma tragédia de enormes dimensões, de que somos testemunhas, justamente o terramoto de 1755 e o consequente maremoto, que de resto prevíramos com alguma antecedência não no pormenor nem na natureza exacta do fenómeno a acontecer. Sim na sua devastação, mas aspecto em relação ao qual não tínhamos maneira de tomar quaisquer providências. A nós, lamentavelmente, restava-nos aguardar os acontecimentos.
    Quem na prática governa os destinos do país deste tempo é o chamado Marquês de Pombal, homem da total confiança do rei, de aguçada inteligência e poder de iniciativa. Imediatamente após o terramoto providencia pelo restauro da sacrificada Lisboa com a abertura de novas vias, de amplas dimensões e mesmo arrojadas para a época. Para além disso toma iniciativas de vulto, algumas polémicas. Determina a abolição da escravatura na Metrópole e pelo termo da inquisição que virá a concretizar-se em definitivo alguns anos mais tarde. A morte dos Távoras por determinação real, é-lhe atribuída de um modo especial, facto que é objecto de surdos comentários.
            O nosso encontro pessoal com aquele ilustre homem de Estado, por muitos tido como déspota, faz parte dos nossos planos, pelo que não perdemos tempo na medida do possível em concretizá-lo.
Como em recente conversa havida entre nós fora sugerida a tentativa de um encontro pessoal com o poeta desta época Barbosa Du Bocage sugestão que despertara uma incontida euforia na minha própria pessoa, ( remoto descendente indirecto e francamente orgulhoso daquele poeta) eu mesmo, discretamente,  recordo esse propósito, que é compreendido e aceite com entusiasmo pelos meus companheiros. O problema estará em conseguir-se a anuência de ambas as figuras, ambas de vulto, mas de posição social radicalmente diversa. Não imaginamos em que conta Bocage é tido pelo Marquês, dado o seu tipo de pessoa e a natureza polémica dos seus escritos. Todos sentimos de antemão o interesse num encontro com aquelas duas figuras de nomeada da Lisboa do século XVIII. Depois de várias diligências que não foram fáceis, conseguimos aprazar esse encontro, que vem a concretizar-se no Café Nicolas…
A cedência do Marquês de Pombal exigiu muita diplomacia, mas que soubemos usar. Durante o encontro a nossa maior preocupação  reside no uso do Português. Bocage, o nosso grande poeta, mostra-se despistado em relação ao problema, não lhe dando importância, mas o Marquês de vez em quando arregala os olhos e aguçando o ouvido pede para repetirmos esta e aquela palavra, mas acabando por mostrar estranheza em relação à nossa pronuncia, justificamos com o facto de sermos homens da região do Douro, todos com vastas explorações do vinho do Porto, actividade de particular agrado do Marquês. Será pois natural – sublinha Norberto – que o nosso sotaque seja portanto provinciano. Parece-nos aceite a justificação, a que Bocage corresponde com um dito jocoso, mal entendido por nós, mas logo seguido de duas quadras do seu particular agrado:

 Da triste Inês , inda os clamores
Andas, Eco chorosa, repetindo;
Inda aos piedosos céus andas pedindo
Justiça contra os ímpios matadores;

Ouvem-se ainda na fonte dos Amores
De quando em quando as náides carpindo;
E o Mondego, no caso reflectindo,
Rompe irado a barreira, alaga as flores:

Todos ficamos em respeito ante este espasmo poético. O Marquês acena com a cabeça numa atitude de apreço, no que me diz respeito, pessoalmente, tenho dificuldade em conter a minha emoção defronte daquele meu antepassado, de quem naturalmente ocultei o meu sobrenome. Não me parece oportuno que ele sonhe com tal realidade, apesar de ser essa a vontade dos meus colegas. Decorre animada a cavaqueira, apesar de serem escassas embora bem-humoradas as palavras do poeta. A situação torna-se comprometedora no momento em que depois de um silêncio, o nosso Elmano Sadino na sequência de um comentário relacionado com as suas andanças pelo Oriente, arranca imprevistamente com outro verso, bem menos apropriado:

Sanhudo inexorável Despotismo,
Monstro que em pranto, em sangue a fúria cevas,
Que em mil quadros horríficos te enlevas,
Obra da Iniquidade e do Ateísmo;

           Fica-se por este verso que nos deixa, a olharmo-nos de soslaio, enquanto que o Marquês se mostra agastado com o rasgo poético de tom satírico do poeta, por admitir que possa dizer-lhe respeito. Com a mão trémula pega no copo nem ele sabe bem se é com intuito de beber, pois limita-se a comentar também com voz trémula e num tom de quem está com alguma pressa: - o que neste momento me apetece dizer é que as portas do Limoeiro continuam abertas, não só para se sair, mas sobretudo para entrar ou voltar a entrar… - levantando-se alega urgência pessoal em se ausentar deixando-nos a promessa de um posterior encontro, mas possivelmente limitado em relação às pessoas, despedindo-se de nós circunspecto, mas ignorando o poeta, que não se mostrou minimamente perturbado.
Ao sair do Nicola o Marquês volta-se para trás para uma última palavra connosco, só que Norberto tinha accionado o sistema de desmaterialização logo após a despedida, pelo que, para surpresa e espanto do Marquês e também do poeta não enxergaram as nossas pessoas, facto para eles mais do que desconcertante, mesmo absurdo, já que não houve tempo para, em circunstancias normais nos termos afastado.
Na cabeça do Marquês ficou a regurgitar uma estranheza a roçar o medo, que ele não conteve e manifestou, apesar de tudo ao nosso poeta que, como ele, estava com os olhos esbugalhados. Esta circunstância inesperada e mesmo insólita fez com que o mal entendido se diluísse ao ponto de o Marquês pedir com aparente naturalidade a Bocage que o acompanhasse, até porque era já noite. À porta do palácio, quando iam para se despedir já quase como dois amigos (esquecido o incidente), ambos se apercebem de que uma luz, semelhante a uma estrela, mas mais intensa, sobrevoa numa vertigem a cidade, fenómeno que volta a acontecer instantes depois no sentido inverso.
Ambos deitam as mãos à cabeça extremamente intrigados e como é já tarde, o Marquês não tem coragem de mandar o pobre poeta para o convento sozinho, pelo que lhe oferece dormida no palácio. 0 poeta reflecte por instantes, mas acaba por se encher de coragem e tomar o caminho do convento onde está instalado, tranquilo já no que concerne a eventual despotismo por parte do Marquês. Caminha de punhos cerrados, como para esconjurar o mau presságio de tudo o que sucedera nesta noite e que culmina com uma desconcertante estrela capaz de rasgar os céus de Lisboa. Desconhecem os dois antagónicos alfacinhas o grave incidente que está a acontecer e que tem que ver com a dita misteriosa luz. É que por falha humana do nosso colega e primeiro piloto Norberto, a nave desviou-se inesperadamente da estrada do Tempo o que a colocou num total descontrole, por assim dizer numa rota de sentido contrario ao que seria normal.
            Por esta altura é recebida na base espacial de Alcochete, aonde um numeroso grupo de pessoas (familiares e técnicos espaciais) aguardam ansiosamente a descida da nave e consequente fim da aventura, uma mensagem preocupante em que Du Bocage  dá, em breves palavras, conta da situação, ao mesmo tempo que transmite nervosamente o texto de todos os registos feitos na viagem, para conhecimento futuro. A mensagem resume-se nestas breves e preocupantes palavras: incrivelmente não conseguimos descortinar como, acabamos de nos perder na estrada do tempo. Que fique bem ciente, não está em causa o espaço, os caminhos do espaço, mas a desconcertante estrada do tempo. A situação é preocupante. Muito difícil recuperarmos a nossa rota. Rezamos porque isso aconteça.

 Segundos após o termo desta mensagem patética é avistada sobre a base espacial uma luz intensa que se aproxima, ao mesmo tempo que é renovado o contacto de Du Bocage informando com incontida euforia o facto de no último instante ter sido retomada a estrada espacial correcta.
Du Bocage acrescenta, que a correcção na rota da nave correspondeu a uma entrada imprevista e genial em plena auto-estrada do tempo, com um solavanco quase imperceptível. Acrescentou finalmente: «a entrada nesta auto-estrada correspondeu a uma vertigem em termos de deslocação no tempo, pelo que foi num ápice que transpusemos todo o século XIX e XX. Há um pormenor que nos deixou pena: tínhamos previsto um espectáculo singular para meados do século XIX, justamente uma exibição da Severa na própria casa onde nasceu, na Rua do Capelão. Claro, não foi possível, ficará para uma próxima oportunidade…»

Há uma alegria incontida no grupo de pessoas que aguardam com ansiedade o termo glorioso desta viagem Trans-Tempo, que fica para a história.


Antonius

MAIS QUE BEM-QUERER

MAIS QUE BEM-QUERER

Querer bem
Inelutavelmente é cotejar o amor
Porém amar, bem mais que cotejar
É o dourado orvalho do bem-querer
Mas mais ainda é sentir-lhe o bafo quente
Porventura o infinito calor
É esquecer-me de mim
Amar é sentir-te o corpo ardente
Turbilhão de escaldante lava
Mergulhar no mundo das incertezas
Onde mora tudo que me é caro
Quiçá tudo que me é raro
Porque dentro de mim uma só certeza
Amar é ler-te nos olhos
É traduzir os teus passos
Acompanhá-los desvanecido
É dar-me por vencido
Enredado em etéreos laços
É ter infinita sede
Do teu sublime enlace
É subir a montanha
Do sentir que me estremece
É crer em mim porque existes
É rejeitar a morte
Porque morrer não pode
Esse sentir que se fez infinito.



Antonius

sábado, 30 de outubro de 2010

No estertor de uma sociedade

No estertor de uma sociedade

Decorridos quase quarenta anos sobre a denominada revolução dos cravos, conclui-se por um lapso de tempo que se aproxima a passos de gazela do tempo de vida do famigerado estado novo. É que ninguém segura o tempo e se o tempo do estado novo foi uma eternidade, igual eternidade decorreu desde a dita revolução, de que se não vê terem emergido resultados que honrem com significativa energia a caminhada deste pais para a modernidade.
Considerando apesar de tudo que a mudança se impunha e que algo de positivo resultou, são tantas as cicatrizes e as equimoses ainda em carne viva vividas pelo nosso povo, que se não nota neste um convincente entoar de loas à governança (sucessivas governanças), que tem conduzido este país. Tem sido flagrante a falta de senso, de previsão de situações, por reconhecimento da nossa efectiva pequenez (já lá vai o tempo do império) a mais que visível ausência de condições para a ostentação de um nível de vida acima das nossas posses, escandalosamente estimulado por Instituições nisso interessadas e com a complacência de plêiades governantes sempre incapazes de verem à distancia. Penso que o facto de sermos um país pequeno não teria nem tem que nos forçar a uma atitude de continua subserviência perante os maiores. O tempo do poder dos grandes está a ser ultrapassado, pelo que não temos que abdicar das nossas responsabilidades num mundo novo e forçosamente mais justo que ao longe se anuncia em que os pequenos terão respeitável lugar, e em que temos que acreditar.
Quero terminar sublinhando que quero acreditar que caminhemos para uma sociedade em que o dinheiro terá apenas a importância que tem e não a inflacionada pelos humanos abutres que ainda enxameiam as sociedades. Estou a pensar na corrupção a todos os níveis e nos ordenados escandalosos que por aí se pagam, quer em Empresas publicas quer privadas. Sim terá que haver forma de estabelecer tectos, de acabar com escândalo. É urgente inventar formas de neutralizar esse tipo de abutres que desempenham funções de responsabilidade muitas vezes em áreas para que não têm competência. Sim acredito que sociedade venha em que o dinheiro não seja endeusado, como tem vindo a ser no sórdido espectáculo a que há muito temos vindo a assistir. Sim, porque ele (o espectáculo)não é só de agora.

Antonius

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Violinista Sonhador

Violinista sonhador



José Refinado é 2º violino da Orquestra Filarmónica do Porto, e é com verdadeira paixão que se desempenha do seu artístico mister. Não raras vezes quase se sente saído da realidade no encantamento que lhe chega dos sons agudos do seu próprio violino. Dir-se-á que chega a deslumbrar-se consigo mesmo, com aquilo de que é capaz, perguntando-se com frequência porque não foi ainda promovido a 1º violino.

Hoje dia 5 de Outubro e comemorando a Republicana data, há concerto na Igreja da Lapa, acontecimento que, como sempre, toma conta do pensamento de José Refinado.
A dada altura do concerto, em plena execução da serenata de Schubbert , no decurso de um agudíssimo si-bemol, José Refinado sente que o arco do violino se lhe solta da mão e sobe serenamente pelo escuro da noite, num céu que se lhe evidencia para além do concreto da cúpula da igreja.
O músico sente-se planar num mundo estonteantemente belo e o arco do violino lá segue a sua rota até que incrível toca na lua prodigiosamente cheia. Desfazendo-se esta num mundo de cor e de sons que inebria a alma do primoroso executante. Realizado este prodígio que o desconcerta, o ousado e transgressor arco do violino volteia e revolteia em torno da miríade de luzes em que a Lua se desfizera, regressando como uma flecha na direcção do inseparável instrumento.
Neste instante o estridente bater da batuta do maestro no respectivo cavalete, trás José Refinado ao real, permitindo-lhe ainda escutar o único som da orquestra inteiramente desfasado do rigor da partitura, o do si-bemol do seu próprio violino, que teria andado pelas nuvens. O esgar com que é olhado pelo maestro em desaprovação não deixa de prevenir o dedicado violinista de que a sua promoção não está para já.

Antonius

Aqueles pinheiros mansos

Aqueles pinheiros mansos

Para o dia de hoje estava destinado uma dose de expectativa, a que sempre contêm um
regresso substancial no tempo e a que o sangue que me corre nas veias é atreito.
Nessa expectativa estava inscrito um dia de sol, outonal é certo, mas sempre belo nas cores da natureza e na neblina que cobre o rio e riachos da minha montanhosa terra.
De manhã cedo arriscamos a não longa viagem, não correspondida pelo requisitado sol que dá vida a todas as coisas. Mas fomos e valeu a pena. Chegados à preciosa aldeia da minha infância (Lomba, assim se chama),lá estavam os três pinheiros do norte que de simples arbustos que eram quando há vinte e cinco anos foram plantados, se tornaram robustas árvores, a falarem-nos da força e do implacável do tempo.
Quer eu, quer os meus filhos – aqueles que os plantaram – não deixamos de intimamente nos ligarmos, na intimidade de cada um, a uma certa emoção.
Perguntamo-nos como o gesto simples de mergulhar um arbusto na terra, pode fazer o milagre do surgimento de três árvores que não tarda a serem frondosas. Não foi sem uma ponta de humor que um dos meus filhos observou que é pena que, quando se planta uma árvore, não se coloque nela a data… ainda dentro do espírito que nos levou a confirmar a manutenção destes preciosos pinheiros do norte, podia muito bem já não existirem, demos uma volta ali pela aldeia. Aqui as recordações eram mais pessoais, minhas. Diria que aquele centro da aldeia está o mesmo( de há cinquenta anos) mas muito diferente. O mesmo porque as casas são as mesmas; mas diferente porque as casas estão todas restauradas, direi que tornado um lindo e atraente povoado. Ao passar junto aquela que foi a nossa casa, ainda em muito bom estado, percorreu-me um frémito feito de pessoas, de situações, de vivências, de traquinice, afinal aquelas coisas que não morrem.
Neste deambular cruzamo-nos com dois cavalheiros que naturalmente saudei. Podiam ser meus velhos amigos ou não. A saudação familiar de um deles fez-me concluir pela primeira hipótese. Aproximei-me e conclui tratar-se do Neca da Teixeira. Eu não o teria reconhecido, mas ele tinha-me já identificado. Gostei de rever este companheiro de infância, mas foram-me amargas as noticias que me deu de outros companheiros da época, quase todos já noutro plano da existência.
Eterna dualidade da vida com a morte: o viço dos pinheiros do norte e o patético da informação do Neca da Teixeira.



Antonius

domingo, 24 de outubro de 2010

Hoje eu vi Deus

Hoje eu vi Deus



Há tempos abordava com um amigo uma temática que sempre me apaixona, apesar de não estar nem nas minhas mãos nem nas dele a resposta cabal e definitiva para o imbróglio. Quando duas pessoas mais ou menos civilizadas ousam entrar na eterna questão da «existência de Deus» terminam sempre numa atitude cordial de mútua cedência. Nenhum foi capaz de uma demonstração inequívoca.
            Nessa abordagem um dos meus argumentos era o da beleza (concretamente beleza da criatura humana). Foi-me contra-argumentado que esse conceito era produto de gerações intermináveis a fazerem determinado tipo de leitura das feições humanas.

Hoje senti-me desafiado a debruçar-me sobre esse tipo de beleza. Naturalmente que a minha atenção recaiu sobre a mulher, acho que muito mais bonita do que o homem. Este menos delicado de traços, mais rude nas curvas fisionómicas, enfim. Com muita ou pouca lógica, meia dúzia de mulheres que passaram disseram-me que Deus tem que existir. É que nesta observação não fiquei pela mera beleza exterior, mas atentei naquele sector do corpo humano que o encima emoldurado por farta cabeleira que o adornava. Nessa observação os meus olhos impregnaram-se de uma energia que senti estranha, por entrarem no mundo fantástico que habita o invólucro craniano daquelas criaturas. Aí sim, senti fantástico, o inacessível, li na inteligência, na sensibilidade, no mundo misterioso das emoções. Simbiose perfeita a da beleza física com o inacessível do pensamento.
Enfim. Deus poderá não existir, mas hoje eu vi Deus.      

Antonius

Eterna Ressonância

Eterna ressonância 



Deixai etéreas forças que eu desbrave o tempo
Em contra-natura enfrente as fúrias do vento
No sentido de antanho use o meu remar

Que lá longe para além de infindas auroras
Vislumbro ainda onde moras
Infinita carícia de remoto amor

Chegam hoje até mim ressonâncias
Saudosas, preciosas ânsias
Do bem-querer sem limites de minha mãe.

Antonius

Eterna Pergunta

Eterna Pergunta

Não sei quem sou
Não sei de onde venho
Não sei para onde vou
Presunção minha
A de tanta ciência
Querer ser senhor.

De pouca monta não é
Saber que sou
Saber que venho
Saber que vou
Já que tanto saber
Me poupa
À total ignorância.

Sábio serei
Pelo mero saber que sou
Saber que venho
Saber que vou
Ainda que continue
A não saber quem sou.

Mas saber tanto
É saber muito
Por ser planar
No patamar do racional.

Antonius

Estranha Sombra

Estranha sombra



Esta noite aconteceu
O que nunca sucedeu
Ali junto ao Pelourinho

Quando eu lesto caminhava
E a lua me afagava
No tortuoso caminho

Uma sombra na minha frente
Caminhava velozmente
Sombra que era a minha

Até ai nada de novo
Nem o dizer soez do povo
Comentários a fazer tinha

De repente num repelão
Pára-se-me o coração
Com bons motivos para tal

É que vinda de lá para cá
Sentindo coisa má
Vem uma sombra sozinha

Sozinha já que ninguém
Por detrás da mesma bem
Vulto que lhe dê razão

É uma sombra e só ela
Sem ninguém por detrás dela
A servir-lhe de guião

Quando me cruzo com ela
Sinto acender-se uma vela
E que a sombra é mesmo minha

Deveras desatinado
Fico quase desmaiado
Ao ver mesmo que sou eu

Vejo-me regressar ao passado
Um tempo há muito levado
Mas um tempo que foi meu

Antonius

Episódio da vida real

Episódio da vida real

Para trás já um punhado imenso de tempo. Incontáveis manhãs, sempre fiel, o sol brindou-nos com a sua presença e o seu sopro vivificador. A bruma desse tempo adensa-se na voragem dos dias de modo que a imagem que guardo e nesta hora me esforço por recuperar está envolta nessa bruma que lhe retira alguma visibilidade.

Recordo que pelos meus doze anos, estava eu de joelhos junto da cama em cima da qual tinha a partitura da aula do dia seguinte. Nas mãos o bandolim e respectiva palheta que se esforçavam por fazer eco das notas postadas na pauta. Era-me evidente a dificuldade da leitura que só conseguia à custa de acentuado esforço. Não seria a incomodidade da posição que me dificultava a tarefa, mas sim a incapacidade de as grossas lentes darem resposta à minha fragilidade visual.

Não era a primeira vez que o problema se me colocava, mas desta feita senti dentro de mim impossibilidade de algum dia poder tocar lendo a pauta, por tal exigir certo distanciamento. É assim que como que acordando para uma realidade incontornável, agarro no braço do bandolim com alguma fúria e com essa fúria o atirar para cima da cama numa atitude de despedida. Batendo o bandolim com violência na cabeceira da cama rachando-se no tampo inferior deixou soltar-se uma ressonância que seria o seu ultimo suspiro. Assim morreu o sonho de algum dia tocar coisa de jeito.

O violino, que era o instrumento para que posteriormente evoluiria (a sua aprendizagem passava pelo bandolim) e que fora presente recente de um tio e ao fim e ao cabo o detonador do meu interesse pela música, lá ficou adormecido num canto do guarda fatos. Bem mais tarde, mas decerto demasiado tarde, discorri que podia ter aprendido a tocar de ouvido, que boa gente o tem feito. Mas na altura não tive essa rajada inspiradora, nem esse aconselhar inteligente. Apesar de tudo, de longe a longe, de muito longe em muito longe, lá pego no violino e sempre com uma réstia de frustração, lhe arranco uns sons não mais do que (plangentes). Quero dizer: nunca me divorciei totalmente do violino.
Nesse tempo não imaginava eu que na vizinha Espanha havia um compositor que era o autor do fabuloso Concerto de Aranjuez, mas compositor esse que era cego desde os três anos. Enfim, há sempre quem seja capaz de desbravar caminhos por pedregosos que sejam.



Antonius

É sempre tempo

É sempre tempo

Por entre a multidão eu procurava
Alma gémea inscrita no meu caminho
Na ânsia do meu querer eu buscava
De entre a flor silvestre o azevinho

Desde a aurora impaciente eu estendia
Meu olhar perscrutador apaixonado
Esforçava-me por ver longe mas não via
Que tal privilegio me era vedado

Incógnita criatura eu sei que eras
Avara em te dares a conhecer
Que não te arriscarias em quimeras
Que eras Sol que brilha sem se ver

Gritava dentro de mim a vaga esperança
De algum dia o milagre acontecer
Como se o luzir de etérea lança
Operasse os olhos de um cego ver

Inusitado à hora do poente
Num tempo que o é de entardecer
O sol em arrebol eloquente
Parece algo ter para dizer

Dos confins do tempo até mim chegaram
Acordes de bem trinada lira
A quererem dizer-me que se quedaram
Do meu amor os requebros da safira

Suma decepção de mim se apodera
Que o mal se anuncie em sons inebriantes
Para a quadratura ousada da esfera
Não há das aves chilreios galantes

Na desdita guiando os meus passos
O destino entregue à minha sorte
Despeço da minha vida os laços
Que sem amor me torno sopro de morte

Mas breve é o tempo da cerração
Fugaz a hora da negritude
Que ao longe se anuncia outra canção
Essa que tem por solo o alaúde

Assim da negra desesperança
Não quis eu nunca fazer guarida
Com as estrelas selei minha aliança
Levando o meu fracasso de vencida

Antonius

Do gesto e da palavra

Do gesto de da palavra



Cale-se da mentira o pregador
Suma-se a voz do pérfido orador
No silêncio extinta a voz insana

Inepta fique a mão do capador
Suspensa no gesto vil de desamor
Não faça ele mais uso da catana

Da palavra iníqua e injuriosa
Não há-de surgir pétala formosa
Por estame algum fecundado

Também da mão infame e criminosa
Não brotará nunca botão de rosa
Já que gesto vil de mal fadado

Restam-te oh homem ao fim e ao cabo
Não as felinas bênçãos do diabo
Mas o são augúrio do Ente amado

Antonius

Antes do amanhecer

Antes do amanhecer



Vem ai a madrugada
Silente serena fecunda
Vem mergulhada na sombra
Feita de murmúrios
Que audíveis são eternos.

Vem ai no ritmo de sempre
Indiferente aos ruídos
Que se esfumam
Ao rescaldo do dia que foi
Adornada de esplendor.

A madrugada vem aí
Pressurosa e ufana
No rigoroso sim
À sua missão de sempre
Anuncia-se vestida de aurora.

Promessa de nívea penumbra
Há incompatibilidade
Entre o seu caminhar
E a estrela
Que aquece os homens,
Perseguição mutua e avara
Sem vislumbre de desfecho
Que a madrugada chega e passa
Sem que o astro rei
Logre deter-lhe o passo.

É plúmbea a madrugada
Quando muito crepuscular
Ás vezes as estrelas
Tremulam nela
Mas a madrugada é
Irremediavelmente bela.

Antonius

Amanhã dá sol

Amanhã dá Sol



O sol despede-se na linha do horizonte derramando filigranas feitas fios de ouro num gesto de despedida grandioso mas sereno, como que fazendo crer ao mundo a promessa de um inevitável amanhã. Eclipsados esses últimos raios de sol, aproxima-se a noite pujante de força na aparência sinistra, mas logo ostentando prelúdios de grandeza, porventura de dignidade. Dir-se-ia que esta hora, tornada pouco mais que um instante, é a do ancestral enlace grande e solene do dia que se fez velho com a noite, ingénua donzela. O encanto deste casamento nesta precisa hora acorda os sentidos da menos atenta criatura. É que, é a natureza que fala no seu esplendor maior na hora vivida entre a vida e a quietude. As árvores da alameda dão o seu contributo sem par ao espectáculo que graciosamente se lhe oferece, atirando os seus galhos desnudados para um céu onde se descortina ainda um vago mas incomparável azul. A noite chega portentosa, cobrindo montes e vales, aqui e além contrariada por importunos focos de luz que o homem criou para sua conveniência. Mas a noite também é ou tem no seu cerne o sentido da solidariedade. É então que incumbe a lua de suavizar num rasgo que esbanja poesia a sua proverbial negritude. E assim acontece o milagre do equilíbrio do dia e da noite feitos deslumbramento aos olhos e sentidos do homem. É por isso que vale a pena que ele de quando em vez abra os olhos, apure os ouvidos e afine o pensamento, porque a natureza é sinfonia que vale a pena ser escutada.

Antonius

sábado, 23 de outubro de 2010

Quando demasiada altura

Quando demasiada altura



Subi a árvore da vida e a vida passei a vê-la de cima. Pareceu-me sem medidas tentadora não lhe vislumbrando o fim. Abrem-se-me as portas da ilusão que no férreo rugido dos gonzos matou o tempo. Morto o tempo, um tempo sem fim se escapa em vertigem dos meus olhos de lince. Sem prévio aviso e num instante a árvore agiganta-se e converte-se em altissimo penhasco de onde escorrem as águas que inundam de vida a vida, que no meu ver minguado na lucidez pelas alturas eterniza o tempo que já só me habita a mente. Na medida em que o penhasco se eleva e se afasta da copa da original árvore o orgulho me rói as entranhas e me faz ébrio e portentoso. Quando deslumbrado com a ciência que vai em mim e o infinito que os meus olhos alcançam inusitado pardalejo em voo picado mas de vertigem feito desequilibra a minha criatura quase omnipotente. Caio na sua rota e deslizo na mesma vertigem. Enquanto ele afoito se esquiva das pedras do caminho eu me estatelo moribundo em parcas areias desse mundo sem medidas que prometera ser meu. Morri e não renasci. Concedido me foi um instante para sentir a imprudência a que me entreguei.

Antonius

Algo de mim

Algo de mim

...Eu sou o meu amanhã somado ao tempo que me ficou para traz.
Eu sou aquele pedaço de mim que sobrou na voragem dos indecifráveis vermes que moram por dentro do meu ser. Sobretudo sou aquela franja de amor que sobrou do infinito amor que desfiz em ti. Ao ser isto sou coisa que já valeu a pena, areia do deserto gota de matinal orvalho, letal vírus por desventura, sopro de vida, mas também inalação do cheiro de violeta vindo de ti,  porque de ti exumado, do teu corpo de sereia nascido de um sonho que prometeu e foi fecundo e ainda que moribundo um novo Perseu deu à luz.
            Rendo-me a ti, aos teus encantos, ao teu deslumbre, à tua graça, ao teu sorriso, à doce criatura que sei que és, ao teu norte, à elegância do teu porte, inelutávelmente àquilo, aquela, que me foi dada em sorte. Há tempos de privilégio.

Antonius

Remoto poeta

Remoto poeta



Houve um tempo em que fui poeta
Nesse tempo havia primavera
O sol iluminava os dias
A lua por seu turno as noites
Mas era esta a que me seduzia
E elas me enfeitiçavam
O céu pejado de estrelas
Trémulas me sussurravam
Cantos de outras Eras
Elevados já ao infinito das coisas.
Nesse tempo eu fui poeta
Falavam-me etéreos murmúrios
Em cânticos de magia
De galáxias perdidas
No átomo criador.

Nesse tempo, remoto tempo
Eu fui poeta, cantei o Amor.


Antonius

Para ti Olema

Para ti Olema 

Deixa que te cante oh mulher
Deixa que te olhe e me deslumbre
Que te grite alto quanto puder
E na tua infinda dadiva de amor
As palavras mais belas que há no mundo

Prescinda da urbe o encantamento
Da natureza o visceral desabrochar
Prevaleça no fervor sensual eterno fermento
Por ele o meu ser se deixe arrebatar

Qual espelho luminoso, transparente
A tua túnica ceda à ânsia do meu olhar
No sonho de te ver tal como és
Nas águas cristalinas que fazem a tua essência
Deixa que me dessedente
Na sofreguidão que me devora
No edénico fascínio
Que fez em ti a vontade criadora
Antonius

A força da palavra

A força da palavra

Ocorre-me o tempo em que o sentido e as responsabilidades paternais desafiaram a integrar-me num movimento designado por (escola de pais nacional), que sei ainda funcionar, naturalmente através de gerações mais jovens. As daqueles que agora se confrontam com o problema não fácil de educar. Espero bem, sim, que se mantenha activo e dinâmico.
Faço referência a este movimento porque foi ai que pela primeira vez ouvi a expressão: «o mais importante para o educando é encontrar a pessoa que o faça fazer tudo aquilo de que é capaz» recordar-me deste ensinamento é assumir o seu significado e importância particularmente nos dias de hoje. Precisamente hoje as circunstâncias trouxeram-mo á mente com toda a energia que guarda em si. Reflecti na importância que os outros têm em nós a começar pelos nossos pais, mas que pode resultar da simples palavra de um amigo. Desde que palavra certa e dita no momento oportuno. Essa palavra pode ter um papel determinante, por nos apontar o caminho certo, uma rota a concorrer para a nossa realização pessoal. Se fazemos uma retrospectiva será fácil confirmarmos essa asserção na nossa vida. Umas vezes por que recordamos essa palavra amiga que nos indicou um caminho que para nós, hoje, se reveste de significado. Outras vezes porque reconsiderado o caminho que seguimos, nele sentimos a ausência da palavra inicial, amiga, orientadora.



Antonius