Pensamento...

A vida é uma janela que se abre no sem fim do Tempo.

sábado, 19 de março de 2011

DEDICATÓRIA

M arília, oh tu mulher diferente
A quela a quem o tempo
R egou com orvalho de ouro fino
I nércia não há em ti, mulher ardente
L írio do meu jardim que mais anelo
I dílio feito mulher para ser amada
A legoria no meu sonho de poeta

O amor com que te amo
L uz que orienta o meu caminho
E fruto de divinal sementeira
M adrugada dos meus sonhos de menino
A quela em quem a beleza sobeja

C írio nos percalços do meu caminho
O sonho feito mulher
R aridade num mundo imperfeito
R éstia de sol rompendo a madrugada
E strela no céu dos meus encantos
I ntima parcela daquele que sou
A guia de asas brancas, meu deslumbre

FUTURO ONDE ESTÁS?

No meu ancestral impulso de ir ao que está para trás, de visitar horas vividas - aquelas que valeu a pena – porque as há demasiado sofridas a apelarem para o receptáculo do esquecimento - fascina-me viajar no tempo, desde o tempo adulto passando pela adolescência, desaguando na infância e mergulhando no mundo do não conhecimento, da não memória, na semente que germinou e se tornou naquele que hoje caminho na estrada da vida – avançada fase, diga-se. Mas mergulhar no tempo será também visitar aquele que me antecedeu, que outros viveram, mas obviamente vidas que valeram a pena. Aqui e naturalmente ocorrem-me figuras humanas que, como soe dizer-se, deixaram marca, lídima marca da sua passagem. Percursos de vida que para mim, vulgar cidadão são fonte de reflexão e apreço.

Esse apreço ou reconhecimento não se fica por aqueles que deixaram memória na boca das gerações vindouras. Memória nem sempre justa, diga-se em abono da verdade. O meu reconhecimento inscreve-se em letras que eu quereria serem de ouro naqueles que não ficaram na história, mas na simplicidade das suas vidas, em que esteve presente o trabalho insano, a dedicação sem limites, o espírito solidário, a honra que lhes transbordava da palavra, o respeito e estima pelo seu igual. Enche-me a alma empreender este tipo de viagem pelos caminhos da informação séria, mas também da imaginação que acredito brotar dos escanos do meu inconsciente, que creio ser fonte de verdade.
Essa viagem, obviamente ocasional, proporciona-me cenas decerto vividas na infância, mas que não deixam de expressar ou de algum modo traduzir o que foram as vidas das gerações precedentes. Quando penso que a previsão da condição de vida do homem que viveu há mil anos haveriam de ser as do que viveu há setecentos, as do que viveu há quinhentos, e depois há trezentos e até duzentos anos, eram praticamente as mesmas; e de imediato penso, concluindo, que a partir daqui, sensivelmente, se operou uma mudança profunda, fantástica, no ritmo e na qualidade da humana caminhada.
Fico perplexo, repartido entre um saudosismo habitado por uma espécie de ternura ou gratidão e o deslumbramento ante um futuro que começou a desenhar-se há duzentos anos e que nos nossos dias atinge já o inimaginável. Quero dizer: atinge um nível de progresso técnico e cientifico (palavrões outrora desconhecidos) que nos levanta uma interrogação sem limites em relação ao futuro. Naqueles remotos tempos, duzentos, trezentos ou quinhentos anos praticamente nada significavam em termos de avanço nesses domínios. Hoje, a geração onde a história nos colocou, não tem maneira de imaginar o que as coisas serão daqui a cinquenta anos. Em suma a caminhada no progresso do homem é uma vertigem de metas insondáveis.

Mas depois desta breve reflexão uma questão demasiado séria fica a vibrar na minha natureza e na minha própria ancestralidade: será que o homem em termos da humanidade que lhe esteja inscrita nas entranhas ou na essência, está a acompanhar a dita vertigem técnico/cientifica? Até prova em contrario, tudo me leva a crer, preocupantemente, que não.

Antonius

quarta-feira, 16 de março de 2011

MÃOS NA NOITE

Quando os meus dedos se soltam de mim
Em fulgurante frenesi
Adivinho-lhes o intento
E na busca que demandam
Há flores de idílico jardim

Soltos os meus dedos
De piano as teclas eles não buscam
Nunca por nunca coisa trivial
Subtil eles sobem as montanhas que há em ti
Na perene ânsia das alturas

A noite harmoniza-se com o sonho
Dos meus dedos que saíram de mim
Que a noite é alfobre do amor
Receptáculo de um sentir profundo
Que não é sempre que emerge

Nesta noite os meus dedo sequiosos
Esventradas do meu ser as raízes
Não buscam a melodia das cordas
Nem da lira sons melodiosos
Tão pouco da harpa as matrizes

O que buscam tensos ansiosos
É floresta que floresce em ti
É o curso de cascatas preciosas
Que o teu corpo em dádiva se oferece
À sede incontornável que há em mim.

Antonius

sábado, 12 de março de 2011

Tarde de Outono




Hoje neste fim de tarde outonal, em contra-ponto com a atitude de todos os dias, não estou distraído. Quero dizer que estou com os sentidos despertos, os olhos abertos, os ouvidos atentos, o cheiro a inalar fragrâncias, porventura odores desestimulantes, o paladar e o tacto em repouso mas predispostos a assumirem funções. Enfim, no que diz respeito à minha pessoa e ante aquele que sou, sinto-me inteiro.

Mas hoje, neste fim de tarde outonal, não me basta a funcionalidade dos cinco sentidos. Outras vozes, outros sons estranhos a mim mas de que sou espectador me preenchem, de alguma maneira me falam de mim. Falam-me em essência da experiência fantástica de estar vivo. Sobressai aquilo que os meus olhos vêem e os meus ouvidos escutam. Não sei qual mais importante embora até há pouco julgasse que sabia.

Hoje a esta hora deixo-me deslumbrar por aquilo a que chamamos natureza, que é feita de coisas mil. As andorinhas aglomeram-se nos fios eléctricos prontas a partir para outras longes terras, a folhagem atapeta já os campos e os caminhos, o sol prepara-se para desaparecer no horizonte, uma esguia nuvem a acompanhá-lo.
O sol vai-se embora, mas amanhã pela madrugada aí está ele, sempre fiel, a anunciar a sua presença. Como ainda é dia, a lua não passa de uma pequena nuvem redonda, mas que se vai iluminando na medida em que o sol caminha para outras terras, aquece outras gentes.

A terra, o sol, a lua, a estrela da noite (que é a mesma da manhã), que de engrenagem fantástica! Que de poder o do portentoso Acaso! Que de fecundo na diversidade dos frutos que nos prodigaliza! Mas como, Acaso? Não, eu não creio no Acaso. Mas esta engrenagem que nesta hora me prende todas as atenções teve um princípio. Quando e como?

Mas no meu encantamento eu distraí-me sem perdão. Perdi-me nas emoções, tantas que elas são e só agora vi o Amor mas, grande que ele é ofusca tudo o mais, a própria engrenagem cósmica que me arrebatou neste fim de tarde de Outono.

Antonius

sábado, 5 de março de 2011

AQUELE PARA ALEM DE MIM





Esbracejando deslizo
Sobre o mar dos meus pensamentos
Ignorante a meu respeito
Borbulha nesse mar
O mundo das minhas interrogações
Estranha consciência
De dois que fazem um
Sendo aquele que esbraceja
Sob o tecido aquático
Bem mais que isso
Mas infinitamente
Sou o que feito tornado
Fui construído pelo tempo
E pelo tempo que foi antes de mim
Um sem fim de flashes luminosos
Que se cruzam e entrecruzam
Feitos esse outro eu
Onde com inteireza
Habita num torvelinho
Aquele que deveras sou

Antonius

quarta-feira, 2 de março de 2011

FONTE DE EMOÇÕES





A música

Aquela que eu anelo

Essa que tange a raiz do meu ser

Tem ganas de me emocionar

Até às lágrimas

É prenúncio de aurora

Chega a ser

Tal como o amor

A voz de Deus

Que ressoa em mim

Antonius

Grande Curva.

Acentuada é a curva da história
Neste tempo não sonhado em que vivemos
Creio não haver registo nem memória
Não ter sido nunca o mundo como o vemos

O progresso chega a ser deslumbramento
Num pasmo vêem os homens o que acontece
Pressentido parece ser o fermento
De algo que vai ser grande ou fenece

Entrou incrédula a minha geração
Nessa curva pelos homens não sonhada
A sentir começa a ter boa razão
De se indagar porque forças é levada

Desconcertante a curva desenhada
Que o homem foi pobre em discernir
Séria se mostra a curva nesta estrada
Inquire-se o homem acerca do devir

Fácil foi para o homem de antanho
Ver o mundo que se lhe seguiria
Pouco mais do que das terras o amanho
Era o que o seu pensar ao longe via

Nestes tempos porém para seu desnorte
A curva faz-se de interrogação
Não sabe se vai para sul ou para norte
Na mente se lhe derrama a confusão

Se a curva está no termo se pergunta
Pressentindo parecer de maior tino
A sua sorte não quer ver defunta
Aforra a sua esperança no destino

terça-feira, 1 de março de 2011

AMOR EM RÉ MENOR

Sou uma nesga de tempo projectada no desmesurado do Tempo
Meteorito em noite de estrelas cadentes
Madrugada de um dia que muito longe se anuncia
Mergulho no mais fundo de mim rondando a morte
Constelação sem estrelas, dormente

Sou um pedaço de mim que rasgou o tempo
Por fresta aberta no inicial magma
Rajada de vento que num momento
Serenou, pacificou, sem perda do fôlego

Sou mais forte do que eu, eu sei que sou
As minhas contas ultrapassei há muito
Perguntando-me se vou, sem saber se vou
Atrevo-me por caminhos não percorridos
Mais que em coragem invisto na suave brisa

Deixei de ser pedaço desse tempo sem medidas
Inteiro passei a ser cioso da inteireza
Vislumbrei constelações ainda ocultas
Pressenti por detrás do inicial meteoro
Acesas, incandescentes brasas
Do em ré menor, eternamente buscado amor

Antonius