Pensamento...

A vida é uma janela que se abre no sem fim do Tempo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Instante que Sou

Desde de sempre eu existi,


Remoto projecto na mente d’ Algo.

Há uma eternidade eu já era.

Nascem as pedras e os montes,

As estrelas no Firmamento.

Das montanhas nascem os rios

Em murmúrios de advento,

-E eu, mero projecto, distante…



Dos mares brota a vida,

E dos céus a ave que canta.

O ronco do leão rasga a floresta

E enquanto da esperteza o símio se ufana,

Um outro, dele, no intelecto se adianta.

Entretanto existe já o Tempo.

Tempo menino, criança,

Tempo que não anda – parado no Tempo

Mas o tempo avança, ainda que sem pressa,

Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios

-E eu, vago projecto ainda…



O homem não chegou ainda a homem.

Das planuras de Cro-Magnon

Vislumbra ao longe “Pequim”.

Atarracado no porte e vesgo na inteligência

Prossegue o seu caminho, determinado,

Puxado por um tempo sem pressa

Feito de eternidades milenares.

A marca do futuro nas entranhas,

No sangue o gene da Evolução.

Ainda que por lapidar

Tomou já o comboio da Razão,

Que em marcha lenta

Percorre os caminhos da pré-História.

Vai só nas veredas do Futuro,

Tudo lhe ficando para traz

- Que ele é já Homem

-E eu, vago projecto remoto ainda…



Vencida a longa jornada que

Da pré-História traz o nome,

Ei-lo que faz a curva da História

A partir de onde,

Em doses mais e mais suculentas,

Lhe são servidas rações de civilização,

Que sorve entre frugal e ébrio.

São ainda as rectas milenares

Cruzadas por egípcios, gregos, persas.



Algures no Oriente Médio,

Surge nesta hora um Homem.

Os seus valores não são os dos outros homens,

A sua conduta intriga os do seu tempo.

Morrendo e vencendo a morte,

Subverte a ordem natural das coisas.

O seu elixir é o do amor

E o seu projecto é de Esperança.

-E eu, então, projecto ainda distante…



Ganhando velocidade,

Segue a sua rota o comboio da História

Galgando indómito as plagas do Tempo.

Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos

Os domínios se arrebanhando,

Em pleno e sucessivo derrubar.

A velocidade é agora vertigem,

Porque de vertigem passou a ser o Tempo

-E eu ainda, não mais que projecto…



Entretanto, subitamente, eu sou!

De projecto que fui por toda uma eternidade,

Do sonho que ainda era ontem,

Neste momento, eu sou... existo !

Momento único e inestimável

Este cruzar da Vida

Com a estrada desmedida do Tempo.

-Luz que mal brilha na noite da Eternidade,…

Até quando este instante ?


Este poema meu, foi declamado pelo Luso-Poeta José Silveira ao qual agradeço:

"Meu caro José Silveira


Acabo de escutar com surpresa inaudita a declamação de um texto meu (elaborado há já um punhado de anos), pela sua voz incomparável . Vejo que foi o atender a um pedido de minha mulher. Se apesar de modesto eu gosto do poema, a leitura do mesmo pela sua pessoa com um maravilhoso fundo musical é para mim uma honra que não mereço, pela qual lhe fico imensamente grato e ficará nos meus registos para a posteridade.
O meu muito obrigado e a minha gratidão" (Comentário de agradecimento)
Clique Aqui para ler e escutar o «Post» no Luso-Poemas.
 
Antonius

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