Desde de sempre eu existi,
Remoto projecto na mente d’ Algo.
Há uma eternidade eu já era.
Nascem as pedras e os montes,
As estrelas no Firmamento.
Das montanhas nascem os rios
Em murmúrios de advento,
-E eu, mero projecto, distante…
Dos mares brota a vida,
E dos céus a ave que canta.
O ronco do leão rasga a floresta
E enquanto da esperteza o símio se ufana,
Um outro, dele, no intelecto se adianta.
Entretanto existe já o Tempo.
Tempo menino, criança,
Tempo que não anda – parado no Tempo
Mas o tempo avança, ainda que sem pressa,
Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios
-E eu, vago projecto ainda…
O homem não chegou ainda a homem.
Das planuras de Cro-Magnon
Vislumbra ao longe “Pequim”.
Atarracado no porte e vesgo na inteligência
Prossegue o seu caminho, determinado,
Puxado por um tempo sem pressa
Feito de eternidades milenares.
A marca do futuro nas entranhas,
No sangue o gene da Evolução.
Ainda que por lapidar
Tomou já o comboio da Razão,
Que em marcha lenta
Percorre os caminhos da pré-História.
Vai só nas veredas do Futuro,
Tudo lhe ficando para traz
- Que ele é já Homem
-E eu, vago projecto remoto ainda…
Vencida a longa jornada que
Da pré-História traz o nome,
Ei-lo que faz a curva da História
A partir de onde,
Em doses mais e mais suculentas,
Lhe são servidas rações de civilização,
Que sorve entre frugal e ébrio.
São ainda as rectas milenares
Cruzadas por egípcios, gregos, persas.
Algures no Oriente Médio,
Surge nesta hora um Homem.
Os seus valores não são os dos outros homens,
A sua conduta intriga os do seu tempo.
Morrendo e vencendo a morte,
Subverte a ordem natural das coisas.
O seu elixir é o do amor
E o seu projecto é de Esperança.
-E eu, então, projecto ainda distante…
Ganhando velocidade,
Segue a sua rota o comboio da História
Galgando indómito as plagas do Tempo.
Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos
Os domínios se arrebanhando,
Em pleno e sucessivo derrubar.
A velocidade é agora vertigem,
Porque de vertigem passou a ser o Tempo
-E eu ainda, não mais que projecto…
Entretanto, subitamente, eu sou!
De projecto que fui por toda uma eternidade,
Do sonho que ainda era ontem,
Neste momento, eu sou... existo !
Momento único e inestimável
Este cruzar da Vida
Com a estrada desmedida do Tempo.
-Luz que mal brilha na noite da Eternidade,…
Até quando este instante ?
Este poema meu, foi declamado pelo Luso-Poeta José Silveira ao qual agradeço:
"Meu caro José Silveira
Acabo de escutar com surpresa inaudita a declamação de um texto meu (elaborado há já um punhado de anos), pela sua voz incomparável . Vejo que foi o atender a um pedido de minha mulher. Se apesar de modesto eu gosto do poema, a leitura do mesmo pela sua pessoa com um maravilhoso fundo musical é para mim uma honra que não mereço, pela qual lhe fico imensamente grato e ficará nos meus registos para a posteridade.
O meu muito obrigado e a minha gratidão" (Comentário de agradecimento)
Clique Aqui para ler e escutar o «Post» no Luso-Poemas.
Antonius
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