Pensamento...

A vida é uma janela que se abre no sem fim do Tempo.

domingo, 9 de setembro de 2012

Serás tu, Xerazade



Esta noite sonhei contigo, Bagdad
Em ti buscando a minha verdade
Segui caminhos já caminhados
Cruzei-me com tempos já passados
Vivi vidas já vividas
E por desertos que não conheci
Mas a marca da minha pegada
Prometem eternizar-se
Desertos que da aridez e da secura
Não ostentam as cores
Porque na linha do horizonte
Como fluxo de divinal fonte
De ti vislumbro a silhueta
Que serena e sem alarde
Me diz que és tu
Essa que desde sempre busco
Minha amante, Xerazade

LuciusAntonius

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

PARA ALÉM DA MORTE

Pode parecer aos outros impossível
Pode ninguém acreditar
Mas eu acabo de morrer.
Morri quase sem dar por ela
Não ainda a morte integral
Essa está a acontecer gradualmente
Na medida em que os neurónios
Esses portadores do facho da vida
Quais pirilampos mágicos
Um a um se vão apagando.
E eles são tantos, tantos!
Agora que pouco falta
Para que se apague de uma vez por todas
A chama que me deu vida
Tomo particular consciência desta
Num estranho processo de absoluta extinção.
Sim, agora vou apagar-me mesmo.
Apaguei-me!
Mas oh deuses
Da banda de lá da morte
De um tempo já sem tempo
Porque deixara de o ser,
Porque embarcara num infinito,
Que o transporta e lhe retira o sentido
Desse mesmo tempo,
A noite é a mais total que conheci,
A que é alheio  ténue indício das estrelas.
Destas guardo algo de que
Os resquícios que me sobram da memória
Não logram agarrar definição.
Entretanto, decorrido este tempo
Que viajou já pela negritude total
Que não conheceu barreiras,
Acontece o impensável:
Um muito vago ponto luminoso,
Anuncia-se-me ao longe através da escuridão
Que tinha indeléveis as cores da morte
Essa que eu sabia existir
Mas não estava certo ainda
Que fosse o fim absoluto.
Esse ponto de luz chega até mim
Cada vez mais intenso
Impregnado de sons distantes
Que eu tinha já esquecido
Esses sons capazes de despertarem
Remotos e celestiais mantras
Começaram a emitir
Para mim verdadeiros flashes de vida.
Conscientizei-me de que
Noutra rota, noutros caminhos
Porventura mais auspiciosos ainda
Acabara de entrar a minha pessoa.
Num já quase êxtase
Pressenti a proximidade daqueles
Que haviam  partido antes de mim.
Tomei consciência numa serena euforia
De que para mim, para o homem
A morte se extinguira.

Lucius Antonius

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O AMOR MORA NO ALTO



O amor habita essa cabana
Que pintei de um branco muito branco
E revesti  de safiras, rubis e alabastro
A cabana fica no gume da montanha
Para que os olhos dos homens
Quando buscam o amor
Sempre olhem para cima.

O amor vive dentro dessa cabana
Mas portentoso que ele é
Num ímpeto que lhe rasga a parede frágil
E se coloca do outro lado do mundo.
É que ele é denso, absorvente
Envolve e revolve aquele a quem abraça.
Sinto-o no gume da montanha
Quase ao meu alcance,
Que só uma polegada nos separa.

Mas eu quero vê-lo e senti-lo
Com os meus olhos buscando
O cume das montanhas.
Do amor rejeito o declínio,
Dai que subir a montanha
É imperativo de quem
O reconhece sublime, luminoso
Irradiante no sonho.

Encanta-me pressentir-te
Quiçá devorar-te,
Mas tal só acontece
Nesses instantes
Que nunca podem ser muitos
Em que te soltas de ti mesmo
E te me dás desinteressada
Nesse amplexo que é feito
De carne e indizível sentir.

ANTOBER

quarta-feira, 11 de julho de 2012

BRASIL

DEDICADO A TODO MUNDO POETICO DO PAIS IRMÃO


De ti Brasil, chegam-nos ternas ressonâncias
De tempos idos, de egrégias gentes
Chegam-nos tornadas gratas fragrâncias
Do radioso emergir de fecundas sementes

Desta extrema ocidental da Europa
Deste torrão que no tamanho não é gigante
Oceânica mensagem nos trás à doca
Mensagem assaz cara, ainda que distante

Desse País imenso feito continente
A força da palavra ostenta sua razão
O mesmo idioma o fala toda a nossa gente
Elo de fraternidade que nos torna povo irmão

Sobre ti , Niterói, ouve-se ao longe
Inspirado canto de poetas e trovadores
Não por força saído do casto monge
Mas feito da palavra certa desfeita em flores

Deste encontro há muito sonhado
Muito se espera do lusitano idioma
Por escribas e poetas há muito caldeado
Dele se orgulham os que o adoptaram
Nascido para crescer, correr mundo
E por gentes sem conta ser falado

O nosso fraterno abraço

Olema e Antonius

(Lamentando muito a impossibilidade de estarmos presentes)



quinta-feira, 28 de junho de 2012

O ESPIRITO VISIONÁRIO DO QUELHAS

Ah Mundo, Mundo! – Como dizia o Quelhas, vão lá já alguns oitenta anos, do alto do penhasco onde assentava a sua pobre e frágil casa, mas que borrasca alguma logrou derrubar, pelo menos de que a vizinhança mais avançada na idade guarde na memória. Ninguém pode saber que espírito morava por detrás das palavras do Quelhas, mas de certo os mais argutos, aqueles que são verdadeiros filósofos apesar de não saberem ler, são capazes de interpretar. Nestes havia um entendimento de que era uma forma de queixume, de desalento ou mesmo de revolta em relação a este mundo que ele – o Quelhas – e os seus contemporâneos conheciam. Era todo um mundo de injustiça, de exploração, mas sabe-se pelas entrelinhas que o Quelhas estava seguro de que não tardaria que outro mundo viesse feito de novos homens, justos, impolutos, sóbrios, a quem bastasse o indispensável., que governariam as nações com equidade, administrariam as empresas publicas e não publicas com sentido de justiça, que velariam sempre pelos mais desprotegidos. Decorridos aqueles oitenta anos, a nós que calcorreamos os caminhos do século XXI, apraz-nos registar com uma euforia incontida a verdade que estava por detrás das palavras do Quelhas. Eram bem uma espécie de profecia de um homem simples mas sábio, porventura vidente. Efectivamente olhando em redor e até muitas vezes olhando para dentro de nós, como sentimos palpitarem as palavras daquele homem que já não tivemos a dita de conhecer! Num mundo justo como é este em que vivemos, feito na generalidade de homens impecáveis incapazes de «deitar» a mão aquilo que não é seu, de darem importância aquilo que chamam o vil metal, absolutos inimigos do alheio, impotentes para a mais pequena desonestidade no chamado «mundo do capital», temos boas razões para nos sentirmos orgulhosos de integrarmos as hordas do século XXI. Este século em que o homem foi capaz de se encontrar consigo mesmo, de ver no outro um irmão, de pressentir a PAZ Definitiva, que é filha do desendeusamento do dinheiro… No que me diz respeito, ao tomar conhecimento de mais uma «derrapagem» (ou coisa equiparada) a envolver coisa como 100.000.000 (cem milhões de euros) fico deslumbrado e uma vez mais vibro com as remotas palavras do Quelhas. Antonius

segunda-feira, 18 de junho de 2012

AS BALIZAS DO TEMPO

Se há coisa que me perturba é o tempo. A sobrepor-se-lhe, só o amor, esse fazedor de deslumbramentos e de êxtases. Mas por alguma razão a ideia do tempo me persegue e quase comigo convive. Umas vezes revolto-me contra ele, por nele ver o absurdo, a não resposta. Outras vezes sinto-me caminhar lado a lado com esse inimigo que, bem feitas as contas, paulatinamente me devora. Pensei já em fazer com ele as pazes, estabelecermos um protocolo que salvaguardasse o interesse de ambos. Mas se assim o pensei, logo me desiludi, porque o tempo não me deu tempo para o diálogo. Mal iniciado este, já o tempo ia lá longe indiferente á minha sonhada proposta. Desisti de dialogar com o tempo. De uma vez por todas me rendo ao seu ímpeto e prepotência. Limitar-me-ei entrementes a preenche-lo de maneira positiva e na medida em que ele o consinta. Sei que ele me domina e que estou por ele balizado. Não tenho mais do que aceitar essas incontornáveis balizas. Antonius

quinta-feira, 31 de maio de 2012

QUIÇÁ UM DIA

Hei-de um dia ser poeta
Ver o mundo com outros olhos
Escutá-lo com outros ouvidos
Arrancar dele uma nova alma
Revestida de novas cores
No arco-íris desvendadas
Com olhos de ver verei o mundo
Que o futuro me anuncia
E onde se espraiam garbosas
As correntes da esperança
Um mundo que valha a pena
Por deferência me merecer
Todo aquele com quem
A cada instante me cruzo.
Esse o mundo dos homens
Com que o meu eu profundo sonha
E pressinto escrito
Nesse futuro não fácil de sondar
Mas de que ausculto distante
Inebriante a melodia.
Antonius

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

PARA TI MARILIA

PARA TI MARILIA
(SALVÉ O 30/12/2011)


Quando os meus olhos com olhos de ver te olham
Quando do belo que há em ti se embriagam
Do arquitecto do universo furtaram a inspiração
E de vera transmutação ganham a consciência.
Nesse instante que é de enlevo
Temo da sanidade a demência
Mas é mais forte de bom senso
O lírio do encantamento
Esse que me faz segura a mente.

É da cor da púrpura o amor com que te amo
Levando em seu seio ânsias do para sempre
Os acordes com que escuto a tua voz
São meteoros, acordes da lira
Em que dedilho o canto que te canto
Convite a ocultar com etéreo manto
A beleza que não desejo oculta
Obra que do divinal traço tem indelével marca
E do despertar da aurora
As cores que traz em si, mansas
Aos sons dos acordes da imortal lira

É diferente hoje o canto que te canto
Outro o Estro da voz que ecoa
De idílicos sons lídimo apanágio
Que deveras só o amor inunda.
É que neste dia aconteceu história
De que o inconsciente guarda a memória
Fonte de alegria, encanto e emoção.

Antonius