quarta-feira, 7 de agosto de 2013
SE DEUS EXISTISSE
Eu sei que o tema é inabordável. Aliás ele até é abordável, se me é permitido contradizer-me. Mas se viver é já de si – ou poderá sê-lo – uma contradição, vou consentir contradizer-me. E faço-o em matéria controversa, em que pode disparar-se em todos os sentidos, sem necessidade de ferir ninguém. Mas pensando um pouco mais, arrostando com a minha frágil inteligência na escuridão do tema, ai vou eu, carregando em desgastado alforge a liberdade a que tenho direito. Esgoto-me e consumo-me no labiríntico emaranhado da vida, na busca empenhada de descortinar a luz portadora da resposta que se fez o meu objectivo de hoje. Exausto, acabo por visionar uma luz feita pirilampo, de acende e apaga e de apaga acende. Uma luz indefinida, indecisa, que parece apontar para logo desapontar. O que eu procuro é afinal aquilo que procuram os homens de todos os tempos; só que, neste tempo em que vivemos, parece que só uma resposta é consentida. Gostaria que o meu divagar nesta busca que almejo levasse a bom porto, ou pelo menos a um porto de bom senso, apesar das contradições que moram em mim e a que este arrazoado não é estranho. É que esta manhã, à alvorada, foi-me ciciado ao longe que Deus não existe. Eu respondi cá de longe que o assunto era complicado e não estava preparado para sobre ele dialogar. Deixei passar um tempo, reflecti – apesar de mil e uma vezes ter já reflectido sobre o assunto – respondendo àquela luz que de facto Deus não existe, porque se existisse coisas há que não podiam acontecer, sobretudo as que pertencem ao mundo do absurdo e do mal querer. De resto, para que exista este mundo que conhecemos e de que fazemos parte, tendo que ter um principio, onde está esse principio? Está em Deus? E quem criou Deus, de onde veio ele? Ao terminar esta ultima pergunta e vendo que a luz da banda de lá do túnel mal a vislumbrava, ténue que era, respirei fundo, quase na plena consciência da informação que recebera, de que Deus não existe. Quase exultei.
Serenado o meu espírito, levantei-me e olhei em redor, adivinhei o sol nascente, escutei o primeiro cantar das aves, o canto inconfundível do cuco. Breves instantes e senti-me regressar á minha própria pessoa, aquele que de facto mais vezes sinto ser. Olhei uma vez mais em redor atentei na cascata além, e ouvi o som das minhas próprias palavras dizerem-me: não, Deus não existe mesmo. Quem o havia de ter criado? De imediato uma luz que não sei qualificar não me levou a balbuciar palavra, mas fez-me sentir no mais profundo de mim: Deus, Deus existe. Não é fácil entendê-lo, é impossível entendê-lo, mas hoje eu sinto no cerne da alma que Ele existe.
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