Acabo de ler uma discrição de uma remota noite de sexta-feira santa. Ao entrar-lhe no que considero a sua alma, a sua razão de ser, a sua lógica, senti ressuscitar no mais profundo do meu ser a minha própria experiencia da infância, de adolescente e mais tarde do adulto que as circunstancias fizeram da pessoa que sou.
É tão rica a memória que guardo desse cortejo religioso, marcado pela simplicidade e pelo próprio anonimato que o colocava à prova de qualquer tipo de vaidade, tão rica de humanidade a sensibilidade que guardo dessa vivência enriquecida pelo bater dos bastões nas lajes graníticas da rua, mas sobretudo pelos acordes gradualmente menos distantes da marcha fúnebre de Chopin, que não posso nesta noite eximir-me dessa remota recordação, por razões que me são demasiado intimas e tocam o âmago da minha humana estrutura. Por isso não sei se me sobra coragem para voltar a assistir a essa cerimónia impar que não obstante se mantêm intacta na minha memória e na minha saudade.
Não sei com rigor onde termina o humano e começa o divino, mas sinto marejados os meus olhos e guardo profundamente cara a recordação dessa procissão de outrora.
Antonius
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