Pensamento...

A vida é uma janela que se abre no sem fim do Tempo.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Eternos Laços

Há um sentir que eu sinto
Cá dentro, dentro de mim
É que cá dentro de mim
Oh Deuses
Há um sentir que eu sinto
Esse sopro vital
Tornado virginal arroubo
É tudo aquilo que sou
O que deveras quero ser
Fogo aceso se tornara no meu peito
Jardim das flores que mais anelo
Fogo que arde e que eu elejo
Palpitante razão do meu viver
Esse sentir que eu sinto
E às vezes me tira de mim
É raiz, é fonte
È sempre e sempre a ponte
Que no mais prendado fulgor
Me embrenha nos laços
Do teu Amor

Antonius

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

NA ROTA DE PASCOAIS

Às vezes tenho-me na conta de saudosista. Não sei se tem que ler-se pretensiosismo nesse conceito e digo isto por desde criança me habituar a ouvir dizer que Teixeira de Pascoais era um cultor do saudosismo. Não imagino que relação possa haver entre essa cultura por parte do grande Teixeira de Pascoais e o espírito saudosista que se passeia no meu sentir. Mas será essa circunstância ou coincidência que me fazem pensar e até temer que haja efectiva pretensão da minha parte.
Há uma coisa que é um facto e de que me orgulho: somos conterrâneos. Nascemos na mesma terra, a uns quinhentos metros um do outro, mas também a uns sessenta e tantos anos um do outro; talvez aqui com desvantagem para ele, que não terá chegado a conhecer coisas como a televisão, a internet, os telemóveis e todo um mundo fantástico de coisas que nos separam naquele lapso de tempo, mas também com vantagem sua justamente por se ter visto livre dessa chusma de dependências, que ainda não sei se fazem o homem mais feliz.
A verdade é que ele é um símbolo ou o maior símbolo do saudosismo em Portugal; e eu, na minha pequenez, não escapo a esse sentimento. A que atribuir essa coincidência, se de coincidência se trata? Ou será a natureza, o ar que se respira, a paisagem a mesma, o mesmo Marão e até o mesmo rio Tâmega a rasgar as entranhas da nossa comum terra.
Seja como seja, prevalece um orgulho cavo a esse respeito nas entranhas da minha alma.
Acontece que tive a dita de conhecer essa lídima figura na minha terra quando eu ainda adolescente. Recordo-o uma figura de aparência modesta, vestido de escuro, mas com uma expressão facial granítica como que a traduzir o Marão que o viu nascer. Tive até a honra, se assim se pode dizer, de ir ao seu funeral, vão lá perto de sessenta anos. Recordo-me de se dizer que o caixão foi feito à pressa por ter de ser feito com a madeira de determinado pinheiro que ele destinara para o efeito.
Porque eu tinha necessidade de, de vez em quando ir a Gatão (aldeia da casa de Pascoais) de mando do meu pai, acontecia de me cruzar com aquele ilustre conterrâneo junto à “taberna” do seu compadre. Nessas ocasiões ao passar junto dele, ia com a mão à boina num gesto de respeitoso cumprimento. Esse gesto e a correspondência da sua parte, tem ainda hoje para mim um significado de uma aproximação humana que deixou raízes. Não sei se foi aí que por ventura inalei alguma lufada de ar de Pascoais que me transmitiu uma réstia do seu sentir saudosista. Não um saudosismo acabrunhante, deprimente, mas antes acalentador de uma paz onde mora um sentimento de estranha esperança.
Pensar assim é para mim homenagear essa Grande figura de pensador e humanista cuja obra estou a tentar reler com extremo apreço.

COITA

A donde ias amada minha
Na brisa da matinal aurora
A donde ias sinhora a donde
Se teu amigo dormira fora

Pensa bem amada minha
Que razões minhas fortes houvera
Da fazedura me incumbira
Ficar na cama bem eu quizera

Mas razões pra ti não atino
longe o sol ainda se amostra
Tragado fico num desatino
E me pergunto se vida é a nostra

Atenta que de perdoar não sou
E “coita” rejeito em meu amar profundo
Antes a morte a desdita se venha
Antes leixar tan sujo mundo

Vais fremoza e insegura
Vais contrita em teu coraçon
Non sei se perdoar te irei
Vou inquirir de mim forte a razon

Antonius

O Sentir Que Me Invade

Mulher! Eu quero fugir à palavra mil vezes dita, à frase feita, àquela que todos usam e pela qual falam de si, dos seus sentires, às vezes ocultos no mais recôndito de nós. Mas por muito que queira fugir à palavra dita, à frase feita, não me é fácil inovar, fazer coisa minha, sobretudo no instante em que mais capaz me sinto para o fazer. Por muito que me esforce, aquilo que me surge em termos de palavras foi já dito ou pensado. Mas o que acontece e o que me importa nesta hora é o que eu diga ou pense, sobretudo o que sinta. Que me importa o que os outros tenham dito, pensado ou sentido? Eu só quero nesta hora, neste instante que quereria eterno dizer-te que te quero no limite do querer. Falar-te da força do sangue que invade os oráculos deste pobre coração – naquilo que foi mas já não é - , do quanto nessa mesma onda falam as veras da minha alma. Procuro e rebusco, quero encontrar mas apenas sinto, mas se sinto é isso o que me importa. Quero dizer por metáfora trazida até mim pelos caminhos da natureza e pelas rotas das estrelas, que não há lírios nos campos, não há urzes na montanha, não há ondas marinhas, nem cerros nevados que traduzam esse sentir profundo que nesta hora me invade. Mulher! Essa palavra mágica que transborda no coração do homem e só ele entende.

Antonius


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mistério

Eu nasci hoje. Quero dizer eu hoje ganhei uma consciência nova de que nasci, a certeza de que isso aconteceu. Não interessa que tenha sido hoje, interessa é que eu nasci. E se nasci e ainda não morri, eu estou vivo, e se estou vivo, alguma coisa tenho a fazer, de alguma coisa me incumbiu quem providenciou para que eu exista. Os meus pais tem culpa, ou melhor, devo-lhes o dom e a divida de me fazerem mexer e integrar nesta coisa que ainda me estou a perguntar se é fantástica, que é viver.
Acho que não tenho que me perguntar a esse respeito, porque acho que é mesmo fantástica. Mas atenção não é indolor viver.
Não sei se os meus pais, como intermediários que foram desse milagre que é a vida tem alguma responsabilidade pelo facto de eu viver. Acho que não, meros intermediários, sem terem que ter qualquer ciência para me por no mundo, e aí é que está o fantástico. É que eu sou fruto de um mero impulso, sublime impulso, mas que nem exigiu – ou terá exigido – qualquer tipo de ensaio ou preparação. O impulso aconteceu ditado, em princípio, por uma atracção física e mental – bastaria que fosse física – para que essa coisa fantástica que sou eu viesse ao mundo, isto é, acontecesse. Ninguém se escandalize por dizer-me fantástico, porque não me refiro a mim em exclusivo, mas a todos e cada um de nós sem excepção. Sim, o escultor e o marceneiro fazem trabalhos fabulosos, mas apesar da fábula que eles são, são coisa morta. A própria obra prima de Miguel Ângelo, apesar da martelada que o mestre deu para que desse sinais de vida, continua morta. Quero dizer, continua sem sinais de vida.
Eu e tu que me lês e todos aqueles, viventes (basta que sejam animais) pura e simplesmente vieram à vida fruto do impulso de que falei. Quero dizer: todos (em principio) sabemos e somos capazes de fazer filhos sem prévia aprendizagem do quer que seja. Do corriqueiro que isso é, nem nos damos conta da grandeza do que acontece.
Mas milagre, isso é que é.

Antonius

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DENUNCIA

Não me importa do universo a grandeza
Tão pouco da Via Láctea a imensidão
Interessa-me das estrelas a singeleza
Do puro bom senso o galardão

Não me interessa do mundo a opulência
Se quer a ostensiva mansão
Toca-me sim a eloquência
Dos que falam a voz da razão

Não me quero pelos proventos aviltado
Ao pobre incapaz de dar a mão
Jamais pelo fausto esmagado
Mísero sentir o do meu coração

Detesto este mundo em que pelejo
E nele grassa a fome inclemente
Por muito que abra os olhos não cotejo
Ver do novo homem a semente

Abomino a rota que levamos
Os que deste tempo temos a herança
Por certo que bem caro pagamos
Em instalada e vã bonança

O que faz de mim intolerante
E me diz que o mundo não avança
É ver os olhos negros da negra fome
No labial tremular duma criança

De corruptos a nuvem transbordante
Levem-na os ventos para longe sem retorno
Não tenha mais oportunidade o meliante
De ver vir às suas mãos o vil suborno


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

INSTANTE QUE SOU

Desde de sempre eu existi,
Remoto projecto na mente d’ Algo.
Há uma eternidade eu já era.
Nascem as pedras e os montes,
As estrelas no Firmamento.
Das montanhas nascem os rios
Em murmúrios de advento,
-E eu, mero projecto, distante…

Dos mares brota a vida,
E dos céus a ave que canta.
O ronco do leão rasga a floresta
E enquanto da esperteza o símio se ufana,
Um outro, dele, no intelecto se adianta.
Entretanto existe já o Tempo.
Tempo menino, criança,
Tempo que não anda – parado no Tempo
Mas o tempo avança, ainda que sem pressa,
Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios
-E eu, vago projecto ainda…

O homem não chegou ainda a homem.
Das planuras de Cro-Magnon
Vislumbra ao longe o Homem de Pequim.
Atarracado no porte e vesgo na inteligência
Prossegue o seu caminho, determinado,
Puxado por um tempo sem pressa
Feito de eternidades milenares.
A marca do futuro nas entranhas,
No sangue o gene da Evolução.
Ainda que por lapidar
Tomou já o comboio da Razão,
Que em marcha lenta
Percorre os caminhos da pré-História.
Vai só nas veredas do Futuro,
Tudo lhe ficando para traz
- Que ele é já Homem
-E eu, vago projecto remoto ainda…

Vencida a longa jornada que
Da pré-História traz o nome,
Ei-lo que faz a curva da História
A partir de onde,
Em doses mais e mais suculentas,
Lhe são servidas rações de civilização,
Que sorve entre frugal e ébrio.
São ainda as rectas milenares
Cruzadas por egípcios, gregos, persas.

Algures no Oriente Médio,
Surge nesta hora um Homem.
Os seus valores não são os dos outros homens,
A sua conduta intriga os do seu tempo.
Morrendo e vencendo a morte,
Subverte a ordem natural das coisas.
O seu elixir é o do amor
E o seu projecto é de Esperança.
-E eu, então, projecto ainda distante…

Ganhando velocidade,
Segue a sua rota o comboio da História
Galgando indómito as plagas do Tempo.
Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos
Os domínios se arrebanhando,
Em pleno e sucessivo derrubar.
A velocidade é agora vertigem,
Porque de vertigem passou a ser o Tempo
-E eu ainda, não mais que projecto…

Entretanto, subitamente, eu sou!
De projecto que fui por toda uma eternidade,
Do sonho que ainda era ontem,
Neste momento, eu sou... existo !
Momento único e inestimável
Este cruzar da Vida
Com a estrada desmedida do Tempo.
-Luz que mal brilha na noite da Eternidade,…
Até quando este instante ?

Antonius

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Instantes

Há instantes que são eternidades, e é no mundo fantástico das emoções que eles acontecem. Por isso são exclusivo do animal homem.
Não são coisa que se procure se se quer encontrar, mas dádiva gratuita que acontece, se acontece. Se a buscamos, se lhe vamos no encalço, ela escapa-se-nos. Volatiliza-se.
Foi nessa cálida noite de junho, a roçar já a madrugada, que a tua voz veio ao meu encontro, quente e cristalina. No embalo dolente e deliciosamente bucólico de "Una Sañosa porfia", que inspirado autor medievo compôs para atravessar o tempo e encantar o gélido e sofisticado homem do século XX. Será que te lembras?
Recordas-te que, enquanto cantavas, a Lua deteve-se, também ela deslumbrada e enormemente cheia, no cucuruto da capelinha de S. Cristóvão, lá no alto da preciosa Penha? Ela, a Lua, recorda-se como se recorda de a ter escutado noutros tempos, noutras paragens, porventura nesta mesma viela desta velha cidade, por outras vozes, outras gentes.
Há instantes que são eternos. Mas que fugases eles são.
Nessa noite a tua voz chegou até mim com a frescura do orvalho das manhãs que prometem Sol. Transparente, líquido, na fluidez da água que se espraia e se esvai, enquanto tangia o núcleo esconso do meu sentir profundo, cravava em mim a lança cruenta e subtil do efémero, daquilo que precioso, no instante seguinte, definitivamente, não é já mais. Mas recordação dinâmica, que fica, que prevalece como valência enriquecedora do acervo que faz o nosso mundo interior e lhe determina o equilíbrio.
Que é feito de ti amiga minha? Que é feito da tua voz que me enfeitiçou e de que ouço ainda hoje em gratas ressonâncias?
Nos dias dessa noite eu atravessava o "grande deserto". Em redor de mim eram areias e pedras. Tudo o mais ou era recordação que me dilacerava, ou rumores de esperança num ainda possível amanhã. Porque estava no deserto, nessa noite foi Oásis. Não terás dado por ele porque não caminhavas no deserto. É que deserto é coisa que só se conhece quando pisamos o seu árido pântano e lhe respigamos o travo escaldante. Só então, também, os nossos pés estão em condições de sentirem e entenderem a frescura do Oásis.
Nessa noite, por instantes, os meus pés pisaram a relva.

antonius

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Para Ti

Não soube nunca não sei ainda

A que edénica fonte atribuir meu sonho

Mergulhei meu Estro no rio das águas mansas

Olhei a lua desnudada e bela

Retive meus passos e deslumbrado

Abri meu coração num assombro e senti

Despontar nas profundas do meu ser

O porquê do meu sonhar – o Amor