Às vezes tenho-me na conta de saudosista. Não sei se tem que ler-se pretensiosismo nesse conceito e digo isto por desde criança me habituar a ouvir dizer que Teixeira de Pascoais era um cultor do saudosismo. Não imagino que relação possa haver entre essa cultura por parte do grande Teixeira de Pascoais e o espírito saudosista que se passeia no meu sentir. Mas será essa circunstância ou coincidência que me fazem pensar e até temer que haja efectiva pretensão da minha parte.
Há uma coisa que é um facto e de que me orgulho: somos conterrâneos. Nascemos na mesma terra, a uns quinhentos metros um do outro, mas também a uns sessenta e tantos anos um do outro; talvez aqui com desvantagem para ele, que não terá chegado a conhecer coisas como a televisão, a internet, os telemóveis e todo um mundo fantástico de coisas que nos separam naquele lapso de tempo, mas também com vantagem sua justamente por se ter visto livre dessa chusma de dependências, que ainda não sei se fazem o homem mais feliz.
A verdade é que ele é um símbolo ou o maior símbolo do saudosismo em Portugal; e eu, na minha pequenez, não escapo a esse sentimento. A que atribuir essa coincidência, se de coincidência se trata? Ou será a natureza, o ar que se respira, a paisagem a mesma, o mesmo Marão e até o mesmo rio Tâmega a rasgar as entranhas da nossa comum terra.
Seja como seja, prevalece um orgulho cavo a esse respeito nas entranhas da minha alma.
Acontece que tive a dita de conhecer essa lídima figura na minha terra quando eu ainda adolescente. Recordo-o uma figura de aparência modesta, vestido de escuro, mas com uma expressão facial granítica como que a traduzir o Marão que o viu nascer. Tive até a honra, se assim se pode dizer, de ir ao seu funeral, vão lá perto de sessenta anos. Recordo-me de se dizer que o caixão foi feito à pressa por ter de ser feito com a madeira de determinado pinheiro que ele destinara para o efeito.
Porque eu tinha necessidade de, de vez em quando ir a Gatão (aldeia da casa de Pascoais) de mando do meu pai, acontecia de me cruzar com aquele ilustre conterrâneo junto à “taberna” do seu compadre. Nessas ocasiões ao passar junto dele, ia com a mão à boina num gesto de respeitoso cumprimento. Esse gesto e a correspondência da sua parte, tem ainda hoje para mim um significado de uma aproximação humana que deixou raízes. Não sei se foi aí que por ventura inalei alguma lufada de ar de Pascoais que me transmitiu uma réstia do seu sentir saudosista. Não um saudosismo acabrunhante, deprimente, mas antes acalentador de uma paz onde mora um sentimento de estranha esperança.
Pensar assim é para mim homenagear essa Grande figura de pensador e humanista cuja obra estou a tentar reler com extremo apreço.
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