Pensamento...

A vida é uma janela que se abre no sem fim do Tempo.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mistério

Eu nasci hoje. Quero dizer eu hoje ganhei uma consciência nova de que nasci, a certeza de que isso aconteceu. Não interessa que tenha sido hoje, interessa é que eu nasci. E se nasci e ainda não morri, eu estou vivo, e se estou vivo, alguma coisa tenho a fazer, de alguma coisa me incumbiu quem providenciou para que eu exista. Os meus pais tem culpa, ou melhor, devo-lhes o dom e a divida de me fazerem mexer e integrar nesta coisa que ainda me estou a perguntar se é fantástica, que é viver.
Acho que não tenho que me perguntar a esse respeito, porque acho que é mesmo fantástica. Mas atenção não é indolor viver.
Não sei se os meus pais, como intermediários que foram desse milagre que é a vida tem alguma responsabilidade pelo facto de eu viver. Acho que não, meros intermediários, sem terem que ter qualquer ciência para me por no mundo, e aí é que está o fantástico. É que eu sou fruto de um mero impulso, sublime impulso, mas que nem exigiu – ou terá exigido – qualquer tipo de ensaio ou preparação. O impulso aconteceu ditado, em princípio, por uma atracção física e mental – bastaria que fosse física – para que essa coisa fantástica que sou eu viesse ao mundo, isto é, acontecesse. Ninguém se escandalize por dizer-me fantástico, porque não me refiro a mim em exclusivo, mas a todos e cada um de nós sem excepção. Sim, o escultor e o marceneiro fazem trabalhos fabulosos, mas apesar da fábula que eles são, são coisa morta. A própria obra prima de Miguel Ângelo, apesar da martelada que o mestre deu para que desse sinais de vida, continua morta. Quero dizer, continua sem sinais de vida.
Eu e tu que me lês e todos aqueles, viventes (basta que sejam animais) pura e simplesmente vieram à vida fruto do impulso de que falei. Quero dizer: todos (em principio) sabemos e somos capazes de fazer filhos sem prévia aprendizagem do quer que seja. Do corriqueiro que isso é, nem nos damos conta da grandeza do que acontece.
Mas milagre, isso é que é.

Antonius

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