O TEMPO
Não há criatura humana que o não tenha desejado em algum instante da sua vida, fosse qual fosse o pendor – mais material ou menos – das suas motivações.
De facto, por muito que o quisesse, ninguém até hoje logrou “agarrar” essa coisa que é o tempo.
Se por desvairado que ande , é possível deter o passo do vento ou orientar-lhe a fúria, o mesmo não sucede com o Tempo. Esse, esvai-se-lhe lesto por entre os dedos. Nem o sofisticado da técnica se atreveu a desviar ou alterar o ritmo do Tempo, nem na cabeça do sábio coube ainda semelhante projecto.
O Tempo é inexorável como a morte. Talvez a única coisa que lhe é igual na fatalidade. Um acontece no preciso momento em que tem de acontecer. O outro, subtil, dissimulado, passa, passa imparável. Ambos implacáveis. Cúmplices, são complementares na sua função. Um é o caminho que leva ao outro.
É no Tempo que tudo acontece. A Vida, a Alegria; o Sofrimento e a Morte. O próprio Amor acontece no Tempo e mais do que em nada ele é vertigem. Se na dor o Tempo quase pára, na felicidade ele é relâmpago.
Demasiado importante – apesar dos maus humores – para que seja desperdiçado, ele é malbaratado de mil e uma maneiras. Quantas vezes, julgando que o vivemos, o estamos a destruir. Só que ele não se comove, e prossegue imparável o seu caminho.
Se, em princípio e com lógica, é a actividade que sugere a real vivência do Tempo, muitas vezes tal não passa de enganadora miragem. Acontece quando nos deixamos enlear e aturdir pelo frenesi coisificante que, se nos traz vantagens de alguma ordem, nos esvazia o espírito.
Por isso é que, se em principio é a actividade a mentora do correcto enchimento do Tempo, não deixa de ser imperiosa a necessidade da paragem no Tempo – paragem dinâmica, retemperadora – capaz de nortear e legitimar essa actividade. É aí que o homem, se não agarra o Tempo, consegue viajar nele por enriquecedores instantes.
Como tudo o que, com desespero nosso, nos escapa, também o Tempo é tema aliciante para quem ousou interpelá-lo alguma vez na sua caminhada veloz.
Viver é acompanhar o Tempo por algum tempo. Talvez seja crime entrar e sair do Tempo sem arranjar tempo para com o Tempo dialogar.
Antonius