O sol despede-se na linha do horizonte derramando filigranas feitas fios de ouro num gesto de despedida grandioso mas sereno, como que fazendo crer ao mundo a promessa de um inevitável amanhã. Eclipsados esses últimos raios de sol, aproxima-se a noite pujante de força na aparência sinistra, mas logo ostentando prelúdios de grandeza, porventura de dignidade. Dir-se-ia que esta hora, tornada pouco mais que um instante, é a do ancestral enlace grande e solene do dia que se fez velho com a noite, ingénua donzela. O encanto deste casamento nesta precisa hora acorda os sentidos da menos atenta criatura. É que, é a natureza que fala no seu esplendor maior na hora vivida entre a vida e a quietude. As árvores da alameda dão o seu contributo sem par ao espectáculo que graciosamente se lhe oferece, atirando os seus galhos desnudados para um céu onde se descortina ainda um vago mas incomparável azul. A noite chega portentosa, cobrindo montes e vales, aqui e além contrariada por importunos focos de luz que o homem criou para sua conveniência. Mas a noite também é ou tem no seu cerne o sentido da solidariedade. É então que incumbe a lua de suavizar num rasgo que esbanja poesia a sua proverbial negritude. E assim acontece o milagre do equilíbrio do dia e da noite feitos deslumbramento aos olhos e sentidos do homem. É por isso que vale a pena que ele de quando em vez abra os olhos, apure os ouvidos e afine o pensamento, porque a natureza é sinfonia que vale a pena ser escutada.
Antonius
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