Aqueles pinheiros mansos
Para o dia de hoje estava destinado uma dose de expectativa, a que sempre contêm um
regresso substancial no tempo e a que o sangue que me corre nas veias é atreito.
Nessa expectativa estava inscrito um dia de sol, outonal é certo, mas sempre belo nas cores da natureza e na neblina que cobre o rio e riachos da minha montanhosa terra.
De manhã cedo arriscamos a não longa viagem, não correspondida pelo requisitado sol que dá vida a todas as coisas. Mas fomos e valeu a pena. Chegados à preciosa aldeia da minha infância (Lomba, assim se chama),lá estavam os três pinheiros do norte que de simples arbustos que eram quando há vinte e cinco anos foram plantados, se tornaram robustas árvores, a falarem-nos da força e do implacável do tempo.
Quer eu, quer os meus filhos – aqueles que os plantaram – não deixamos de intimamente nos ligarmos, na intimidade de cada um, a uma certa emoção.
Perguntamo-nos como o gesto simples de mergulhar um arbusto na terra, pode fazer o milagre do surgimento de três árvores que não tarda a serem frondosas. Não foi sem uma ponta de humor que um dos meus filhos observou que é pena que, quando se planta uma árvore, não se coloque nela a data… ainda dentro do espírito que nos levou a confirmar a manutenção destes preciosos pinheiros do norte, podia muito bem já não existirem, demos uma volta ali pela aldeia. Aqui as recordações eram mais pessoais, minhas. Diria que aquele centro da aldeia está o mesmo( de há cinquenta anos) mas muito diferente. O mesmo porque as casas são as mesmas; mas diferente porque as casas estão todas restauradas, direi que tornado um lindo e atraente povoado. Ao passar junto aquela que foi a nossa casa, ainda em muito bom estado, percorreu-me um frémito feito de pessoas, de situações, de vivências, de traquinice, afinal aquelas coisas que não morrem.
Neste deambular cruzamo-nos com dois cavalheiros que naturalmente saudei. Podiam ser meus velhos amigos ou não. A saudação familiar de um deles fez-me concluir pela primeira hipótese. Aproximei-me e conclui tratar-se do Neca da Teixeira. Eu não o teria reconhecido, mas ele tinha-me já identificado. Gostei de rever este companheiro de infância, mas foram-me amargas as noticias que me deu de outros companheiros da época, quase todos já noutro plano da existência.
Eterna dualidade da vida com a morte: o viço dos pinheiros do norte e o patético da informação do Neca da Teixeira.
Antonius
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