Regressar no tempo agarrar a infância
Com o vibrar das coisas simples
Das luzes das pinhas mansas
Feitas da lareira o aconchego
A alegria que paira no ar
Portadora de esperança
Vozes que vazaram o tempo
Em lembranças desfeitas em saudade
O menino Jesus que na madrugada
Era trazedor das modestas prendas
Que faziam o nosso enlevo
Que não tinha o pai natal sido ainda inventado.
Quisera regressar no tempo
E trazer comigo as coisas
Mas sobretudo o calor das vozes
No ânimo que lhes dava alento
E assim voltar a viver
O Natal da minha infância.
Mas não se fica por aqui o meu sonho de Natal
Que mais funda é a prece que jorra dentro de mim
Que comporta um mundo melhor
Feito dádiva fraterna
Ao indigente que a sociedade despreza
Ao simples sem eira nem beira
Com quem me cruzo tantas vezes sobranceiro
Distraído do igual a mim
Esse que sem o calor do olhar
E a riqueza da palavra amiga
Não pode entender Natal
Antonius
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
LUZ QUE NÃO SE APAGA
-Proíbo-me de te não recordar
De te não ver tal qual és
Te não auscultar da fronte a lucidez
De te não adivinhar arguta a mente.
-Proíbo-me de não sentir teus passos
De te não ver no passo largo e másculo
De te não recordar o vibrante encanto
Na riqueza humana que jorrou de ti
-De esquecer o sensível que és, proíbo-me
Como de esquecer o belo que conheceste
Na arte na amizade e no amor estou certo
Que tempo tiveste para sentir de perto.
-Não me perdôo que um dia passe
Sem que pensar em ti passe também
Não consinto que em mim cesse
Esse Filho que foi para mim Alguém.
-Memória de ti guardarei sempre
Na busca perene da verdade
Pensar em ti é firmar na mente
A sede que há em mim de Eternidade.
Antonius
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
CIVILIZAÇÃO ACONTECE?
Quando era pequeno sentia-me viver num mundo que me seduzia. Não tinha lucidez para fazer observações apuradas, ilações que levassem em si noções de justiça, perscrutar a necessidade de uma sociedade mais equilibrada, mais humana. Foi preciso tempo, que os anos passassem, para dessa constatação ir tomando conta.
Deslumbrava-me com coisas simples (que então o não eram para mim tanto como isso). Nesse tempo eu cuidava que o mundo tinha parado, que o progresso tinha atingido os limites, que não havia já imaginação para novos modelos de automóveis. Os aviões e a televisão acabada de aparecer tinham dado por encerrada a caminhada dantesca do homem na terra. A minha vulgar memória guarda pois desses tempos episódios, maneiras de estar, valores que na generalidade nos falavam da natureza humana tal como nos foi inculcado, mas também na maioria dos casos, factos, atitudes, modos de estar inócuos. Para os espíritos mais maduros, escassos, certamente observações a ter em conta, sobretudo em matéria de justiça social.
Só que, decorridos estes quarenta a cinquenta anos, o espectáculo, ou sensibilidade dos homens continuam no mesmo patamar. Se por um lado experimentou inegável progresso no mundo da ciência com indiscutível repercussão no seu modo de estar, na comodidade, num pasmo perante o fantástico, não poderá dizer-se o mesmo, lamentavelmente no que concerne aos valores que verdadeiramente caracterizam ou deverão caracterizar o comportamento humano que tem que ver antes de mais com a justiça e solidariedade.
Acontece que o dinheiro, esse desconcertante ingrediente, continua a fascinar o homem e por isso à cabeça dos seus maiores objectivos. E se o dinheiro não é o objectivo final, é o intermédio aquele através do qual se alcança tudo o que não interfira com a réstia de consciência que haja em cada um.
Naquele tempo, havia esse sentimento a que se chamava vergonha e também aquilo que era tido por honra e quem pisasse esses valores ia-lhe sofrendo as consequências. O homem de hoje, diz-se civilizado, veste a capa da austeridade e da honradez, mas, absurdo é-lhe consentido orgulhar-se dos seus devaneios, da sua ganância, da sua sede de ostentação, de um espírito de competição sem paralelo. Estas vestes não ficam mal ao homem moderno, antes lhe conferem respeitabilidade e direito a um destaque social. Por isso se vão tornando donos das instituições, das mais representativas de um povo.
Eu quando era criança interrogava-me sobre muitas coisas mas, lá no mais fundo da minha pessoa acreditava que civilizado seria o homem que vinha aí. Hoje constrange-me a decepção com que se deparam os meus olhos e todo aquele que sou com o descalabro a que assisto.
Por exemplo eu cuidava que os dez estádios de futebol se destinavam a durante uns dez meses em cada ano serem convertidos em espaços culturais, de acolhimento e de «dádiva» a todos os outros desportos; cuidava que uns tantos submarinos, última palavra, há anos encomendados viessem a ter utilidade correspondente ao seu custo; cuidava que derrapagens só aconteciam com as viaturas terrestres, quando afinal elas acontecem (e de que monta) com cidadãos a quem o nosso povo conferiu responsabilidades. Sim, tais derrapagens (que chegam a escapar ao poder da inteligência mais arguta), o suborno desmedido os ordenados e benesses de empresas públicas (e privadas, evidentemente) são neste nosso país um escândalo.
Terminaria este meu deambular pelo tempo, de uma forma utópica mas deixando em mim o sonho de que um futuro lhe conceda o benefício de uma certa esperança: - que chegue o tempo em que o dinheiro tenha um valor relativo para um homem que se tornou de facto civilizado. Quero dizer: um tempo em que o muito dinheiro não seja motivo de petulância, mas antes de um certo constrangimento, (sei que sou utópico), mas que o dito homem civilizado passará a ter em conta.
Que assim seja…
Antonius
terça-feira, 11 de outubro de 2011
QUANDO SE NOS ABREM OS OLHOS
Neste instante
Neste preciso instante
Está a acontecer em mim
O milagre de te ver
E ao sentir o milagre
Ao dele tomar nos punhos
A consciência
Senti arrasar-me o remorso
Sentimento amargo
Que nos faz recuar no tempo
Mas não mais que no tempo
No azedume do imponderado
Da distracção sem retorno.
Ao ver-te assim tão linda
No deleite do teu encanto
Considerei o tempo perdido
Tempo que todos perdemos
Distraídas criaturas que somos.
Proíbo-me de descurá-lo já amanhã
Fazer dele coisa vã
Exijo de mim fundo despertar
Ao mais belo
Ao mais apetecível
Ao mais suculento dos frutos
Esse que do Amor furta o nome
Antonius
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
SAUDAÇÃO A UM AMIGO
Subir a alta montanha
É registo inscrito no teu caminhar.
Determinado, firme, seguro
Nele um passo mais acabas de dar
Sabemos árdua a caminhada
Que no horizonte sempre a cumeeira
Acreditamos que agreste e com escolhos
Mas nela os acordes de bela melodia
E de gole de cachaça a fantasia
Energizando o projectado sonho.
Quem assim caminha é um Homem
Porque transpõe a amargura
Porque agarra a alegria
Que os abrolhos e os frutos suculentos concilia
Porque a vida foi capaz de converter
Em estimulante sinfonia
Esse Homem foi às raízes da sabedoria.
Desta outra banda do Atlântico saudamos com o nosso abraço
O amigo, poeta e lídimo caminhante José Silveira
Sábio sorvedor do belo que a vida oferece
Antonius e Marília
domingo, 18 de setembro de 2011
EM MEMÓRIA DE UM AMIGO
Se não fosse atentado ao bom senso
Daqueles que o conhecemos
Diríamos que o Quirino nos virou as costas
Ao deixar-nos nos caminhos desta vida
Mas a quem, saudoso colega
Na tua “avara” humanidade
Virarias tu algum dia as costas?
Nesta hora que nos agarra de surpresa
Perguntamo-nos ainda o que aconteceu.
Acontece que tu eras um colega especial
O amigo em quem podíamos confiar
O tesouro que habite a nossa alma
As horas de contacto humano foram muitas
Muitas as circunstâncias
Mas destacaríamos sobretudo
Aquelas em que o teu sentido de humor
Vinha à tona da água
Recentemente, num passeio aos Açores
Registamos palavras tuas
Que falaram do teu deslumbramento
Da espiritualidade que eras capaz de ver
No belo da natureza
Tão rica como na tua relação com os outros.
Nesta hora que é de sofrimento
Um mundo de palavras jorraria
Da boca de qualquer deste punhado de colegas
Que contigo tiveram a dita de privar
Mas para te honrarmos
Para exaltar as tuas qualidades humanas
Numa hora que é irrepetível
Não são precisas muitas palavras.
Dentro de nós fica o pensamento
Esse que tem asas e que voa
Um pensamento que nunca te esquece
Que nenhum Infinito detém
E que acreditamos aproximar-te
Da Entidade Criadora
Antonius
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
NO DIA EM QUE MORRI
Subitamente
O estrépito do roçar
Na funérea estrutura granítica
Faz-me retomar a consciência.
Regresso a mim
Por instantes saí da morte
E farejei a vida.
Tudo foi instantâneo
Não houve tempo
Para aquilatar
Da sede de regresso
Ou da expectativa
Do novo caminho encetado
- O da irreversível morte.
O ultimo instante
Foi mesmo a morte
Que mo anunciou.
Estou morto, sinto-me morto
Portanto do outro lado da vida
Pergunto-me o que vai ser de mim
O que foi dos que me precederam
Há mil, milhentos anos
O que vai ser dos que me sucedam
No futuro, se futuro existe.
Nesta terra que há pouco
E por razões muitas
Se me fez sofrer
Me embrenhou
Em suas delicias
Num encanto feito natureza,
O que vai fazer de mim
De todo esse mundo
Que para trás fica
Em que vai ele converter-se
Que desfecho o espera
Que resposta porventura
Lhe está prometida.
Será que a verde floresta
A montanha alterosa
As flores do jardim que anelei
O amor que fui capaz de dar
E aceitei receber
Estão traduzidos
Nesse futuro em que acreditei?
Foi o acaso que ditou esse futuro
Ou energia que me ultrapassa
E que pelos caminhos da morte
E apesar deles
É garantia de vida
De um amanhã que existe…
Se assim é
Não é patético
O roçar do meu caixão
Pela dureza granítica
Da minha sepultura,
Tão pouco o ruído
Que me acordara da morte.
Antonius
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Quando o Amor é Magma
Amo-te até à exaustão
E tão sinceramente
Que sinto acesa na mente
Indómita sede de união.
No esconso do meu sonhar
Há eterna fome de dar
Bem mais do que receber
Porque o amor não tem medidas
Se as tem foram vencidas
Por aquele que sabe amar
O amor em mim é madrugada
É réstia de tempo alada
É queda de água nascente
A falar-me do Principio
Do amor fecundado
E no eterno feminino calor
Saído à luz do dia
É ave que não tem asas
Mas esquilo capaz de voar
Com a alma te devorar
Amar é dar a mão
Matar a sede na união
É mais dar que receber
É a lava ser do vulcão
Antonius
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
SOBERBA VISÃO
Adivinhei-te na silhueta
Que a luz da outra banda
Desenhava no azul poente
Na luminosa e radiante poeira
Que o núcleo de sol que se exauria
Emprestava à última réstia
Do esplendoroso Astro.
Mais do que reconhecer-te
Senti viva a tua presença
Nas cores da penumbra que te vestiam
No passo cadenciado
E de uma elegância sem limites
Só podia ser o teu,
No desenho que se estampava
Nesse azul que se esbatia
E apontava já para a noite.
Mas esse desenho
Falava-me do belo
Do belo feminino
Da beleza feita mulher
Das curvas soberbamente desenhadas
Obra-prima de mestre
Que só poderiam ser,
Sonhei ver-te deter o passo
Porventura deliciosamente
Prostrares-te diante de mim
Acordar-me para um mundo
Feito das coisas sublimes.
Mas como o sublime
Nunca se eterniza
Nesse instante que acreditei glorioso
Fez-se noite
E nem do céu as estrelas
Escutaram a minha prece.
Antonius
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
NO PRINCIPIO ERA A ÁGUA
Aquilo que trago das entranhas da mãe
E pressinto no instante
Em que me senti ser gente
E vai já lá tão distante
É uma sede insaciável
A de ser aquele que sou
Na plenitude da minha humanidade.
E pergunto-me: estarei a sê-lo?
No concretizar deste sonho
Muitas são as vertentes
As cascatas de água que jorram
Da montanha do meu ser
E que espelham o lado sublime
Do que penso ser
A vertigem da minha passagem.
Desfiladeiros de águas
Que na impetuosidade
Dos invernais desmandos
Perdem as cores da primavera
Mas nem por isso, descartam de si
Eflúvios de esperança.
Antonius
quarta-feira, 27 de julho de 2011
A longevidade do carvalho
Aquela estante velhinha
De que tantas vezes me valho
Não é feita de Pau preto
Mas de madeira de carvalho
A mesa da nossa sala
Onde de petiscos me engalho
Não é de pinheiro manso
Mas de madeira de carvalho
O nosso escano velhinho
Onde às vezes ferro o galho
É feito de madeira, sim
Mas madeira de carvalho
As traves da nossa casa
Ali presas como um malho
Não há tempo que as derrube
São de madeira de carvalho
O pipo da jeropiga
Onde eu às vezes me encalho
Não nasceu de um limoeiro
Mas de madeira de carvalho
A própria cama de pau
Onde às vezes eu (trabalho)
Não é filha de um cipreste
Mas de madeira de carvalho
O próprio poeta pedante
De cheiro constante a alho
Apesar de insinuante
De postura assaz galante
Não é feito de qualquer droga
Tão pouco de madeira de carvalho
sábado, 23 de julho de 2011
ENCONTRO NA NOITE ESCURA
Escondido por trás da noite
Onde o vento se acoite
Longe do sol nascer
Estrelado estava o céu
Que a noite era de breu
Olhos não tinha para ver
Mas a noite me fascina
E não sei se é por sina
Tenho que a encarar
É nela que os meus intentos
Vitorias ou desalentos
Deveras vou confrontar
O que tinha dentro de mim
Aconselhava-me sim
A discreto ser no agir
Que o amor em mim arfava
Era força que animava
Intento que me movia
Procurei na noite escura
Esgotei-me até à secura
Já que na noite não via
Confiei na intuição
Em súplica pedi a mão
A quem me pudesse ajudar
Um anjo caído do céu
Retirando à noite o breu
Ofertou-me mulher amante
Reconquistado o amor
Colhi a mais bela flor
E num beijo lha ofertei
Ganhador me senti ser
Por ver que voltava a ver
A mulher que tanto amei
Antonius
quinta-feira, 7 de julho de 2011
RECORDAR ISTAMBUL
Guardar-te-ei para sempre na retina
Cidade que és três vezes cidade
Ante tua grandeza, oh Istambul
Deteve-se o tempo
Que em aparente, absurdo advento
Impotente se mostrou em deter-te o passo.
Tu Istambul três vezes cidade
Memória guardas de Bizâncio e Constantino
Do remoto burgo guardas a saudade
Aos guardas do império empolgada cantas
As glorias e feitos em inspirado hino.
Em cálida noite de Junho me enfeitiçaste
Sob a luz de lua cheia esplendorosa
Portentosa aos olhos do homem te mostraste
Cidade meeira de três impérios
Que fronteira de dois mundos te tornaste.
Das tuas Mesquitas e Minaretes
Enternecedores cânticos chegam até mim
Em ressonâncias de lírica oração
Neles te sinto o palpitar da alma
Inebriando-me o idílico do silêncio
Nas estrelas reflectindo a tua história.
Sinto-me abraçar-te oh Istambul
Nas entranhas de incontida emoção.
Antonius
DESNORTE
Nos céus deste Lusitano rincão
Pairam nuvens negras, cúmulos cerrados
A prenunciarem inclemente borrasca
Sendo ainda dia faz-se noite
Que o sol, esse fazedor de vida
Qual guardião dos dias de sempre
Parece prometer ao homem
Vergastada solene, merecido açoite.
Nos céus deste rincão velhinho
Parece ter o homem perdido o norte
Incapaz de seguir o seu destino
Feito um tornado em desatino
Reclama de outros a sua sorte.
Num passado glorioso fundeada a ancora
Rumou para a frente sempre altaneiro
Não consintamos nós, filhos deste tempo
Que espúria rajada de inusitados ventos
Leve a pique o sonho do Infante marinheiro
Antonius
terça-feira, 17 de maio de 2011
TU ÉS MELODIA
És o sol da minha vida
A estrela que me ilumina
Tu és a porta de entrada
No jardim que me anima
És sonho, és criatura
Néctar que me asfixia
És do humano a formosura
Estrela que ao criador se alia
És o sonho que eu sonhei
Desde que dei conta de mim
Aquele ente que abracei
Doirada peça de marfim
Se alta noite acontece
Por ventura eu despertar
Tudo que o mundo etéreo tece
Suspende o meu cotejar
É que algo de concreto
Acorda em mim sons dormentes
O mundo sedento de afectos
Tira de mim tons crescentes
A vida acorda em mim
Ao tocar-te lira amante
Tens cordas de cetim
És anelo delirante
A melodia que harpejo
De enlevo se reveste
É da harmonia ensejo
Doce cântico celeste
Antonius
sábado, 14 de maio de 2011
SAFIRA
És o meu desatino
Quando irrompes para mim
És esmeralda ouro fino
Do amor eterno hino
Cantata de arlequim
Deslumbras-me se te cotejo
O norte se perde em mim
Infinito tornado desejo
Feito etéreo o harpejo
És angélico querubim
Se nua por ventura te vejo
Ébrio sinto o meu existir
Ao mais alto te elejo
Roçar teus seios meu ensejo
Num eterno perseguir
O teu corpo me abrasa
Se de meu ego se acerca
És fogo telúrica chama
Que num instante se inflama
Tornado divinal oferta
Antonius
quinta-feira, 28 de abril de 2011
CÂNTICO
Hoje eu canto a árvore
Esse milagre que se eleva
Das profundas da terra mãe
Insondável alquimia
A fez germinar
E decidida brotar
Da negritude do nada
Feita vida irradiante
Por escatológico poder
Também ele impenetrável
Certo é que frondosa
Se ergue em galhos
Que ousados
Rasgam as malhas do azul do céu.
A árvore toca-me
No mais fundo do meu ser
Porque logra de alguma maneira
Falar-me da essência do amor
Que mora por detrás
De todas as coisas
E se a sua robustez
Tem a marca do tempo
Eu venero-lhe a memória.
Daí que olhando hoje
As três viçosas árvores
De que os meus filhos
Há muito
Foram entusiastas plantadores
Eu ajoelho à natureza
Por ver nela emergir
Aquele Poder que tudo pode.
Antonius
sexta-feira, 22 de abril de 2011
SEXTA-FEIRA SANTA
Acabo de ler uma discrição de uma remota noite de sexta-feira santa. Ao entrar-lhe no que considero a sua alma, a sua razão de ser, a sua lógica, senti ressuscitar no mais profundo do meu ser a minha própria experiencia da infância, de adolescente e mais tarde do adulto que as circunstancias fizeram da pessoa que sou.
É tão rica a memória que guardo desse cortejo religioso, marcado pela simplicidade e pelo próprio anonimato que o colocava à prova de qualquer tipo de vaidade, tão rica de humanidade a sensibilidade que guardo dessa vivência enriquecida pelo bater dos bastões nas lajes graníticas da rua, mas sobretudo pelos acordes gradualmente menos distantes da marcha fúnebre de Chopin, que não posso nesta noite eximir-me dessa remota recordação, por razões que me são demasiado intimas e tocam o âmago da minha humana estrutura. Por isso não sei se me sobra coragem para voltar a assistir a essa cerimónia impar que não obstante se mantêm intacta na minha memória e na minha saudade.
Não sei com rigor onde termina o humano e começa o divino, mas sinto marejados os meus olhos e guardo profundamente cara a recordação dessa procissão de outrora.
Antonius
domingo, 10 de abril de 2011
NO DESPERTAR DO AMOR
À se me lembro mulher
Desse instante remoto em que me solto
E liberto de asfixiante carapaça
Feita de incontáveis e contidos impulsos
Pela primeira vez em ânsias
Deslizo sedento e sonhador
Sobre o teu corpo ululante
Vagos gemidos se anunciando
Para em dádiva desinteressada
Àquele que tanto e tanto te sonhou
Te dares nas primícias do amor
Ah como te sinto ainda ofegante
Num imperecível descontrolo
Ah como me afundo em ti
Cuidando atingir o inatingível
Como premindo as teclas do teu dorso
Que te comprimem até à medula
Como mergulhando-me em ti
Quase perco o sentido do eu
Afogando-me num fogo não sonhado
Imolando-me no calor escaldante
Feito de indizível amor
Antonius
Desse instante remoto em que me solto
E liberto de asfixiante carapaça
Feita de incontáveis e contidos impulsos
Pela primeira vez em ânsias
Deslizo sedento e sonhador
Sobre o teu corpo ululante
Vagos gemidos se anunciando
Para em dádiva desinteressada
Àquele que tanto e tanto te sonhou
Te dares nas primícias do amor
Ah como te sinto ainda ofegante
Num imperecível descontrolo
Ah como me afundo em ti
Cuidando atingir o inatingível
Como premindo as teclas do teu dorso
Que te comprimem até à medula
Como mergulhando-me em ti
Quase perco o sentido do eu
Afogando-me num fogo não sonhado
Imolando-me no calor escaldante
Feito de indizível amor
Antonius
quinta-feira, 7 de abril de 2011
A CRISE
Há um ano a esta parte que neste nosso País a palavra que está na berra e é usada a torto e a direito é “crise”. Mais ou menos toda a população tem consciência de que vivemos, (não só nós, mas o mundo ocidental) uma crise de contornos não sei se bem definidos, mas que se anuncia coisa séria com que o ocidente se vai confrontar talvez por bastante tempo.
Mas se a dita crise envolve grande parte do mundo ocidental (por ventura repercutindo-se no resto do mundo), cada país vive-a e sente-a à sua maneira e também a intensidade da mesma diverge, dependendo muitas vezes em grande parte de factores endógenos. Muitas vezes de factores que podiam ter sido evitados ou pelo menos suavizados. O sul da Europa , pertencente ao mundo dito latino está a ser particularmente atingido e Portugal está tristemente na linha da frente. Digo tristemente por que pertenço ao número dos que pensam que alguma ou muita coisa podia e devia ter sido feita em termos de prevenção. Sim, acho que ao cidadão atento e sem necessidade de ser especialista, era visível há uns anos a esta parte que as coisas não podiam seguir indefinidamente pelo caminho por onde seguiam, havia que arrepiar caminho. Como naturalmente a nós portugueses é o nosso país que antes de mais nos diz respeito, vai para ele nesta hora a minha atenção especial. Abreviando, tem-se vindo a constatar que a nossa situação financeira é desastrosa. Todos sabemos e todos o dizemos que temos vivido acima das nossas possibilidades, num consumismo desenfreado, animados por um espírito de competição que às vezes é escandaloso.
Hoje mesmo o governo (que apesar de demissionário é ainda o que governa) acaba por decidir aceitar o apoio do FMI para poder enfrentar as suas dificuldades financeiras. Pressente-se que o país de um modo geral ansiava essa decisão, por não vislumbrar outro tipo de saída. Afundávamo-nos de dia para dia. Com esta decisão gera-se uma vaga de esperança.
A meu ver (ponto de vista generalizado) este pedido de ajuda ( para todos os efeitos acto de mendicidade mas a que o pobre tem que recorrer) deveria ter sido feito há bem mais tempo, mas a questão que se me coloca é bem mais grave: é que por muito bom que seja o espírito com que os estranhos nos apoiam (…) somos nós portugueses que temos de resolver o problema, pagarmos a quem ficarmos a dever e sermos capazes de reconstruir este país. Durante este ano houve 4 PECs, isto é pedidos aos bocadinhos, à custa do sacrifício da franja mais modesta, sobretudo os desempregados, que o resto da população por muito que se queixe e que fale em crise, esta ainda lhe não bateu à porta. O que penso é que o PEC (o primeiro) logo à partida devia ser coisa pensada, muito concreta a bater à porta da maioria dos cidadãos segundo as suas possibilidades. Sublinho a salvaguarda do sector efectivamente atingido, de grupos que começam a conhecer a fome, aqueles que não têm força para fazer greves, nem grandes nem pequenas.
Acreditei já que este país, apesar de pequeno fosse capaz de ultrapassar as suas dificuldades com inteligência e com tenacidade. Venho constatando com tristeza que de facto não merecemos mais do que ir na cauda da Europa, até parece que numa atitude protectora de quem vai a amparar os que vão na frente.
A hora que vivemos é séria, exigente para connosco e coisa importante que temos a exigir de nós é espírito de solidariedade. Não tenho estofo pessoal para dar um grande passo nesse sentido, mas há quem o tenha. Pois que ele seja dado e com urgência ainda que saibamos que ele vai mexer no bolso de cada um de nós. Tenho que dizer que sinto repulsa pelos desequilíbrios em termos de ordenados que vão por aí. Enquanto uns tem ordenados e pensões de miséria, outros há, não sei porquê, que se abotoam com vencimentos escandalosos, não falando nesse mundo de corrupção de que temos conhecimento ou que pressentimos. Não me venham com “capacidades” ou “aguçadas inteligências”, porque o que está provado é que ninguém é insubstituível.
Apetece-me terminar dizendo que na nossa pequenez física (refiro-me ao nosso país) seremos grandes quando formos capazes de, de punhos fraternalmente cerrados afirmarmos, aceitando que assim seja, que esses ordenados que são um escândalo passem a constituir em vez de razão de vaidade, motivo de vergonha. Sim, é que é vergonhoso que enquanto uns arrecadam verbas astronómicas, outros se confrontem com a fome.
Parece utópico, mas ainda espero que num espírito fraterno, solidário, de não endeusamento do dinheiro more o futuro deste País e então ele será grande e dele se orgulharão os nossos filhos.
Antonius
Mas se a dita crise envolve grande parte do mundo ocidental (por ventura repercutindo-se no resto do mundo), cada país vive-a e sente-a à sua maneira e também a intensidade da mesma diverge, dependendo muitas vezes em grande parte de factores endógenos. Muitas vezes de factores que podiam ter sido evitados ou pelo menos suavizados. O sul da Europa , pertencente ao mundo dito latino está a ser particularmente atingido e Portugal está tristemente na linha da frente. Digo tristemente por que pertenço ao número dos que pensam que alguma ou muita coisa podia e devia ter sido feita em termos de prevenção. Sim, acho que ao cidadão atento e sem necessidade de ser especialista, era visível há uns anos a esta parte que as coisas não podiam seguir indefinidamente pelo caminho por onde seguiam, havia que arrepiar caminho. Como naturalmente a nós portugueses é o nosso país que antes de mais nos diz respeito, vai para ele nesta hora a minha atenção especial. Abreviando, tem-se vindo a constatar que a nossa situação financeira é desastrosa. Todos sabemos e todos o dizemos que temos vivido acima das nossas possibilidades, num consumismo desenfreado, animados por um espírito de competição que às vezes é escandaloso.
Hoje mesmo o governo (que apesar de demissionário é ainda o que governa) acaba por decidir aceitar o apoio do FMI para poder enfrentar as suas dificuldades financeiras. Pressente-se que o país de um modo geral ansiava essa decisão, por não vislumbrar outro tipo de saída. Afundávamo-nos de dia para dia. Com esta decisão gera-se uma vaga de esperança.
A meu ver (ponto de vista generalizado) este pedido de ajuda ( para todos os efeitos acto de mendicidade mas a que o pobre tem que recorrer) deveria ter sido feito há bem mais tempo, mas a questão que se me coloca é bem mais grave: é que por muito bom que seja o espírito com que os estranhos nos apoiam (…) somos nós portugueses que temos de resolver o problema, pagarmos a quem ficarmos a dever e sermos capazes de reconstruir este país. Durante este ano houve 4 PECs, isto é pedidos aos bocadinhos, à custa do sacrifício da franja mais modesta, sobretudo os desempregados, que o resto da população por muito que se queixe e que fale em crise, esta ainda lhe não bateu à porta. O que penso é que o PEC (o primeiro) logo à partida devia ser coisa pensada, muito concreta a bater à porta da maioria dos cidadãos segundo as suas possibilidades. Sublinho a salvaguarda do sector efectivamente atingido, de grupos que começam a conhecer a fome, aqueles que não têm força para fazer greves, nem grandes nem pequenas.
Acreditei já que este país, apesar de pequeno fosse capaz de ultrapassar as suas dificuldades com inteligência e com tenacidade. Venho constatando com tristeza que de facto não merecemos mais do que ir na cauda da Europa, até parece que numa atitude protectora de quem vai a amparar os que vão na frente.
A hora que vivemos é séria, exigente para connosco e coisa importante que temos a exigir de nós é espírito de solidariedade. Não tenho estofo pessoal para dar um grande passo nesse sentido, mas há quem o tenha. Pois que ele seja dado e com urgência ainda que saibamos que ele vai mexer no bolso de cada um de nós. Tenho que dizer que sinto repulsa pelos desequilíbrios em termos de ordenados que vão por aí. Enquanto uns tem ordenados e pensões de miséria, outros há, não sei porquê, que se abotoam com vencimentos escandalosos, não falando nesse mundo de corrupção de que temos conhecimento ou que pressentimos. Não me venham com “capacidades” ou “aguçadas inteligências”, porque o que está provado é que ninguém é insubstituível.
Apetece-me terminar dizendo que na nossa pequenez física (refiro-me ao nosso país) seremos grandes quando formos capazes de, de punhos fraternalmente cerrados afirmarmos, aceitando que assim seja, que esses ordenados que são um escândalo passem a constituir em vez de razão de vaidade, motivo de vergonha. Sim, é que é vergonhoso que enquanto uns arrecadam verbas astronómicas, outros se confrontem com a fome.
Parece utópico, mas ainda espero que num espírito fraterno, solidário, de não endeusamento do dinheiro more o futuro deste País e então ele será grande e dele se orgulharão os nossos filhos.
Antonius
terça-feira, 5 de abril de 2011
Será que Existes?
Oh Deus, porque não existes? É tão lindo este mundo, há nele tanta coisa preciosa! Há sentimentos, coisas que sentimos lá bem nas profundas da alma que nos estremecem, trazem até nós sentires inefáveis como esse a que chamamos Amor.
Este fala-nos numa linguagem muito própria, inatingível para a nossa inteligência mas que a nossa sensibilidade misteriosamente agarra e digere em delírios enternecedores que nos despertam o espírito e estremecem o corpo físico que nos acompanha.
No meio de tanto encantamento, como não existes oh Deus? Como vibra em nós esse sentimento fabuloso, inigualável, mas também outras sensibilidades que não têm preço, como a Amizade, apesar dos riscos de ser enganadora. Isto no que respeita ao nosso mundo interior e às efabulações da nossa mente. Mas oh Deus! Tu não existes apesar dos meus argumentos, mas há mais: há todo um mundo fantástico ao alcance daquilo a que chamamos sentidos e que alcançamos através dos nossos olhos, dos nossos ouvidos e de outros agentes físicos. É que com os olhos eu vejo a natureza, vejo os rios e as montanhas, as quedas de água, os desfiladeiros, os prados verdes e as árvores, esse milagre cresce e se torna frondoso e dá frutos que são delicias, tudo isto por obra e graça não sei de quê. E os meus ouvidos? Se os não tivesse ou por absurdo não funcionassem, eu não ouviria coisas maravilhosas, como o murmúrio das águas, o canto do rouxinol, a Tosca de Puccine, o alarido das crianças, a voz de uma mulher. Além disso, apesar de não existires, como pode oh Deus existir o sol, essa lua que sempre apaixonou os mortais.
Eu sei que há sofrimento também, e que tantas vezes tortura a alma. Eu conheço-o. Quase todos o conhecemos. Mas justamente porque ele existe, Tu devias existir, para aplacar os demónios que o injectam na vida dos homens.
Sinceramente, acho absurdo que não existas para que nós, pobres criaturas ignorantes víssemos lógica, entendêssemos o fantástico da vida e interpretássemos o porquê do sofrimento. Sabes uma coisa? Eu às vezes penso que Tu se calhar até existes, por aí escondido algures, atrás de um penedo no cocuruto de uma árvore, no cimo de uma montanha ou com mais lógica ainda, por detrás das estrelas. Só que escondido. Mas escondido porque? Pensando bem, talvez haja lógica nessa coisa de te ocultares aos olhos dos homens. O que seriam eles, o que seriamos nós se te víssemos, se estivesses ao nosso alcance? Acho que tenho que concluir que o homem só consegue ser homem às escuras, isto é, não Te vendo. No dia em que Te visse estaria chegado ao cume da montanha, teria acabado o tempo.
Sabes uma coisa? Às tantas Tu até existes, só que para nossa realização plena, fora do nosso alcance, apenas nos dando a chance de Te pressentirmos.
Este fala-nos numa linguagem muito própria, inatingível para a nossa inteligência mas que a nossa sensibilidade misteriosamente agarra e digere em delírios enternecedores que nos despertam o espírito e estremecem o corpo físico que nos acompanha.
No meio de tanto encantamento, como não existes oh Deus? Como vibra em nós esse sentimento fabuloso, inigualável, mas também outras sensibilidades que não têm preço, como a Amizade, apesar dos riscos de ser enganadora. Isto no que respeita ao nosso mundo interior e às efabulações da nossa mente. Mas oh Deus! Tu não existes apesar dos meus argumentos, mas há mais: há todo um mundo fantástico ao alcance daquilo a que chamamos sentidos e que alcançamos através dos nossos olhos, dos nossos ouvidos e de outros agentes físicos. É que com os olhos eu vejo a natureza, vejo os rios e as montanhas, as quedas de água, os desfiladeiros, os prados verdes e as árvores, esse milagre cresce e se torna frondoso e dá frutos que são delicias, tudo isto por obra e graça não sei de quê. E os meus ouvidos? Se os não tivesse ou por absurdo não funcionassem, eu não ouviria coisas maravilhosas, como o murmúrio das águas, o canto do rouxinol, a Tosca de Puccine, o alarido das crianças, a voz de uma mulher. Além disso, apesar de não existires, como pode oh Deus existir o sol, essa lua que sempre apaixonou os mortais.
Eu sei que há sofrimento também, e que tantas vezes tortura a alma. Eu conheço-o. Quase todos o conhecemos. Mas justamente porque ele existe, Tu devias existir, para aplacar os demónios que o injectam na vida dos homens.
Sinceramente, acho absurdo que não existas para que nós, pobres criaturas ignorantes víssemos lógica, entendêssemos o fantástico da vida e interpretássemos o porquê do sofrimento. Sabes uma coisa? Eu às vezes penso que Tu se calhar até existes, por aí escondido algures, atrás de um penedo no cocuruto de uma árvore, no cimo de uma montanha ou com mais lógica ainda, por detrás das estrelas. Só que escondido. Mas escondido porque? Pensando bem, talvez haja lógica nessa coisa de te ocultares aos olhos dos homens. O que seriam eles, o que seriamos nós se te víssemos, se estivesses ao nosso alcance? Acho que tenho que concluir que o homem só consegue ser homem às escuras, isto é, não Te vendo. No dia em que Te visse estaria chegado ao cume da montanha, teria acabado o tempo.
Sabes uma coisa? Às tantas Tu até existes, só que para nossa realização plena, fora do nosso alcance, apenas nos dando a chance de Te pressentirmos.
domingo, 3 de abril de 2011
PENSAR É FOGO
Hoje surpreendi-me ao dar comigo a pensar. Pensei, pensei até à exaustão e de tal modo que às tantas senti necessidade de parar de pensar. Mas não foi fácil. Eu queria parar de pensar e não conseguia. Quanto mais me esforçava, menos conseguia, até que me cansei de me esforçar por parar de pensar. Por isso achei que o melhor era continuar a pensar, talvez pensar mais sinceramente, como diria o poeta.
Nesta hora em que penso (pelo andar da carruagem não sei bem se tenho horas em que não pense, vazias, brancas, será que há disso?), estou sentado num penedo que dá alguma imponência à eira da casa dos meus avós maternos. Depois de pensar e deixar de pensar, voltei a pensar mas agora muito sinceramente naquele penedo, no que terá sido a sua vida, quem o plantou ali e quando, há quanto tempo? Estou farto de ver este penedo e nele nos sentarmos, os da casa nas noites da grande lua, desfiando canções de me fazerem remontar ao tempo em que outras gentes, porventura do mesmo sangue entoavam amorosas canções de Amigo. Mas reflectir no seu nascimento, no tempo que ele tem, em quem o plantou e como, isso não, nisso nunca tinha pensado –ignorância minha.
Dizem que a terra no princípio era fogo. Será que este penedo algum dia foi fogo? Mas que pensamento louco! Louco não, lúcido é o que ele foi. A verdade é que acabo de fazer uma viajem fantástica ao tempo em que este penedo foi fogo! Mas tão importante como esse fogo, bem mais ainda, há-de ter sido o fogo humano que nele terá acontecido em noites de lua cheia como aquela outra, em que dois seres se deixaram devorar no fogo do amor, e quantas vezes por esse tempo que não tem fim este mesmo fogo terá incendiado corações.
Nesta hora em que penso (pelo andar da carruagem não sei bem se tenho horas em que não pense, vazias, brancas, será que há disso?), estou sentado num penedo que dá alguma imponência à eira da casa dos meus avós maternos. Depois de pensar e deixar de pensar, voltei a pensar mas agora muito sinceramente naquele penedo, no que terá sido a sua vida, quem o plantou ali e quando, há quanto tempo? Estou farto de ver este penedo e nele nos sentarmos, os da casa nas noites da grande lua, desfiando canções de me fazerem remontar ao tempo em que outras gentes, porventura do mesmo sangue entoavam amorosas canções de Amigo. Mas reflectir no seu nascimento, no tempo que ele tem, em quem o plantou e como, isso não, nisso nunca tinha pensado –ignorância minha.
Dizem que a terra no princípio era fogo. Será que este penedo algum dia foi fogo? Mas que pensamento louco! Louco não, lúcido é o que ele foi. A verdade é que acabo de fazer uma viajem fantástica ao tempo em que este penedo foi fogo! Mas tão importante como esse fogo, bem mais ainda, há-de ter sido o fogo humano que nele terá acontecido em noites de lua cheia como aquela outra, em que dois seres se deixaram devorar no fogo do amor, e quantas vezes por esse tempo que não tem fim este mesmo fogo terá incendiado corações.
sábado, 19 de março de 2011
DEDICATÓRIA
M arília, oh tu mulher diferente
A quela a quem o tempo
R egou com orvalho de ouro fino
I nércia não há em ti, mulher ardente
L írio do meu jardim que mais anelo
I dílio feito mulher para ser amada
A legoria no meu sonho de poeta
O amor com que te amo
L uz que orienta o meu caminho
E fruto de divinal sementeira
M adrugada dos meus sonhos de menino
A quela em quem a beleza sobeja
C írio nos percalços do meu caminho
O sonho feito mulher
R aridade num mundo imperfeito
R éstia de sol rompendo a madrugada
E strela no céu dos meus encantos
I ntima parcela daquele que sou
A guia de asas brancas, meu deslumbre
A quela a quem o tempo
R egou com orvalho de ouro fino
I nércia não há em ti, mulher ardente
L írio do meu jardim que mais anelo
I dílio feito mulher para ser amada
A legoria no meu sonho de poeta
O amor com que te amo
L uz que orienta o meu caminho
E fruto de divinal sementeira
M adrugada dos meus sonhos de menino
A quela em quem a beleza sobeja
C írio nos percalços do meu caminho
O sonho feito mulher
R aridade num mundo imperfeito
R éstia de sol rompendo a madrugada
E strela no céu dos meus encantos
I ntima parcela daquele que sou
A guia de asas brancas, meu deslumbre
FUTURO ONDE ESTÁS?
No meu ancestral impulso de ir ao que está para trás, de visitar horas vividas - aquelas que valeu a pena – porque as há demasiado sofridas a apelarem para o receptáculo do esquecimento - fascina-me viajar no tempo, desde o tempo adulto passando pela adolescência, desaguando na infância e mergulhando no mundo do não conhecimento, da não memória, na semente que germinou e se tornou naquele que hoje caminho na estrada da vida – avançada fase, diga-se. Mas mergulhar no tempo será também visitar aquele que me antecedeu, que outros viveram, mas obviamente vidas que valeram a pena. Aqui e naturalmente ocorrem-me figuras humanas que, como soe dizer-se, deixaram marca, lídima marca da sua passagem. Percursos de vida que para mim, vulgar cidadão são fonte de reflexão e apreço.
Esse apreço ou reconhecimento não se fica por aqueles que deixaram memória na boca das gerações vindouras. Memória nem sempre justa, diga-se em abono da verdade. O meu reconhecimento inscreve-se em letras que eu quereria serem de ouro naqueles que não ficaram na história, mas na simplicidade das suas vidas, em que esteve presente o trabalho insano, a dedicação sem limites, o espírito solidário, a honra que lhes transbordava da palavra, o respeito e estima pelo seu igual. Enche-me a alma empreender este tipo de viagem pelos caminhos da informação séria, mas também da imaginação que acredito brotar dos escanos do meu inconsciente, que creio ser fonte de verdade.
Essa viagem, obviamente ocasional, proporciona-me cenas decerto vividas na infância, mas que não deixam de expressar ou de algum modo traduzir o que foram as vidas das gerações precedentes. Quando penso que a previsão da condição de vida do homem que viveu há mil anos haveriam de ser as do que viveu há setecentos, as do que viveu há quinhentos, e depois há trezentos e até duzentos anos, eram praticamente as mesmas; e de imediato penso, concluindo, que a partir daqui, sensivelmente, se operou uma mudança profunda, fantástica, no ritmo e na qualidade da humana caminhada.
Fico perplexo, repartido entre um saudosismo habitado por uma espécie de ternura ou gratidão e o deslumbramento ante um futuro que começou a desenhar-se há duzentos anos e que nos nossos dias atinge já o inimaginável. Quero dizer: atinge um nível de progresso técnico e cientifico (palavrões outrora desconhecidos) que nos levanta uma interrogação sem limites em relação ao futuro. Naqueles remotos tempos, duzentos, trezentos ou quinhentos anos praticamente nada significavam em termos de avanço nesses domínios. Hoje, a geração onde a história nos colocou, não tem maneira de imaginar o que as coisas serão daqui a cinquenta anos. Em suma a caminhada no progresso do homem é uma vertigem de metas insondáveis.
Mas depois desta breve reflexão uma questão demasiado séria fica a vibrar na minha natureza e na minha própria ancestralidade: será que o homem em termos da humanidade que lhe esteja inscrita nas entranhas ou na essência, está a acompanhar a dita vertigem técnico/cientifica? Até prova em contrario, tudo me leva a crer, preocupantemente, que não.
Antonius
Esse apreço ou reconhecimento não se fica por aqueles que deixaram memória na boca das gerações vindouras. Memória nem sempre justa, diga-se em abono da verdade. O meu reconhecimento inscreve-se em letras que eu quereria serem de ouro naqueles que não ficaram na história, mas na simplicidade das suas vidas, em que esteve presente o trabalho insano, a dedicação sem limites, o espírito solidário, a honra que lhes transbordava da palavra, o respeito e estima pelo seu igual. Enche-me a alma empreender este tipo de viagem pelos caminhos da informação séria, mas também da imaginação que acredito brotar dos escanos do meu inconsciente, que creio ser fonte de verdade.
Essa viagem, obviamente ocasional, proporciona-me cenas decerto vividas na infância, mas que não deixam de expressar ou de algum modo traduzir o que foram as vidas das gerações precedentes. Quando penso que a previsão da condição de vida do homem que viveu há mil anos haveriam de ser as do que viveu há setecentos, as do que viveu há quinhentos, e depois há trezentos e até duzentos anos, eram praticamente as mesmas; e de imediato penso, concluindo, que a partir daqui, sensivelmente, se operou uma mudança profunda, fantástica, no ritmo e na qualidade da humana caminhada.
Fico perplexo, repartido entre um saudosismo habitado por uma espécie de ternura ou gratidão e o deslumbramento ante um futuro que começou a desenhar-se há duzentos anos e que nos nossos dias atinge já o inimaginável. Quero dizer: atinge um nível de progresso técnico e cientifico (palavrões outrora desconhecidos) que nos levanta uma interrogação sem limites em relação ao futuro. Naqueles remotos tempos, duzentos, trezentos ou quinhentos anos praticamente nada significavam em termos de avanço nesses domínios. Hoje, a geração onde a história nos colocou, não tem maneira de imaginar o que as coisas serão daqui a cinquenta anos. Em suma a caminhada no progresso do homem é uma vertigem de metas insondáveis.
Mas depois desta breve reflexão uma questão demasiado séria fica a vibrar na minha natureza e na minha própria ancestralidade: será que o homem em termos da humanidade que lhe esteja inscrita nas entranhas ou na essência, está a acompanhar a dita vertigem técnico/cientifica? Até prova em contrario, tudo me leva a crer, preocupantemente, que não.
Antonius
quarta-feira, 16 de março de 2011
MÃOS NA NOITE
Quando os meus dedos se soltam de mim
Em fulgurante frenesi
Adivinho-lhes o intento
E na busca que demandam
Há flores de idílico jardim
Soltos os meus dedos
De piano as teclas eles não buscam
Nunca por nunca coisa trivial
Subtil eles sobem as montanhas que há em ti
Na perene ânsia das alturas
A noite harmoniza-se com o sonho
Dos meus dedos que saíram de mim
Que a noite é alfobre do amor
Receptáculo de um sentir profundo
Que não é sempre que emerge
Nesta noite os meus dedo sequiosos
Esventradas do meu ser as raízes
Não buscam a melodia das cordas
Nem da lira sons melodiosos
Tão pouco da harpa as matrizes
O que buscam tensos ansiosos
É floresta que floresce em ti
É o curso de cascatas preciosas
Que o teu corpo em dádiva se oferece
À sede incontornável que há em mim.
Antonius
Em fulgurante frenesi
Adivinho-lhes o intento
E na busca que demandam
Há flores de idílico jardim
Soltos os meus dedos
De piano as teclas eles não buscam
Nunca por nunca coisa trivial
Subtil eles sobem as montanhas que há em ti
Na perene ânsia das alturas
A noite harmoniza-se com o sonho
Dos meus dedos que saíram de mim
Que a noite é alfobre do amor
Receptáculo de um sentir profundo
Que não é sempre que emerge
Nesta noite os meus dedo sequiosos
Esventradas do meu ser as raízes
Não buscam a melodia das cordas
Nem da lira sons melodiosos
Tão pouco da harpa as matrizes
O que buscam tensos ansiosos
É floresta que floresce em ti
É o curso de cascatas preciosas
Que o teu corpo em dádiva se oferece
À sede incontornável que há em mim.
Antonius
sábado, 12 de março de 2011
Tarde de Outono
Hoje neste fim de tarde outonal, em contra-ponto com a atitude de todos os dias, não estou distraído. Quero dizer que estou com os sentidos despertos, os olhos abertos, os ouvidos atentos, o cheiro a inalar fragrâncias, porventura odores desestimulantes, o paladar e o tacto em repouso mas predispostos a assumirem funções. Enfim, no que diz respeito à minha pessoa e ante aquele que sou, sinto-me inteiro.
Mas hoje, neste fim de tarde outonal, não me basta a funcionalidade dos cinco sentidos. Outras vozes, outros sons estranhos a mim mas de que sou espectador me preenchem, de alguma maneira me falam de mim. Falam-me em essência da experiência fantástica de estar vivo. Sobressai aquilo que os meus olhos vêem e os meus ouvidos escutam. Não sei qual mais importante embora até há pouco julgasse que sabia.
Hoje a esta hora deixo-me deslumbrar por aquilo a que chamamos natureza, que é feita de coisas mil. As andorinhas aglomeram-se nos fios eléctricos prontas a partir para outras longes terras, a folhagem atapeta já os campos e os caminhos, o sol prepara-se para desaparecer no horizonte, uma esguia nuvem a acompanhá-lo.
O sol vai-se embora, mas amanhã pela madrugada aí está ele, sempre fiel, a anunciar a sua presença. Como ainda é dia, a lua não passa de uma pequena nuvem redonda, mas que se vai iluminando na medida em que o sol caminha para outras terras, aquece outras gentes.
A terra, o sol, a lua, a estrela da noite (que é a mesma da manhã), que de engrenagem fantástica! Que de poder o do portentoso Acaso! Que de fecundo na diversidade dos frutos que nos prodigaliza! Mas como, Acaso? Não, eu não creio no Acaso. Mas esta engrenagem que nesta hora me prende todas as atenções teve um princípio. Quando e como?
Mas no meu encantamento eu distraí-me sem perdão. Perdi-me nas emoções, tantas que elas são e só agora vi o Amor mas, grande que ele é ofusca tudo o mais, a própria engrenagem cósmica que me arrebatou neste fim de tarde de Outono.
Antonius
sábado, 5 de março de 2011
AQUELE PARA ALEM DE MIM
Esbracejando deslizo
Sobre o mar dos meus pensamentos
Ignorante a meu respeito
Borbulha nesse mar
O mundo das minhas interrogações
Estranha consciência
De dois que fazem um
Sendo aquele que esbraceja
Sob o tecido aquático
Bem mais que isso
Mas infinitamente
Sou o que feito tornado
Fui construído pelo tempo
E pelo tempo que foi antes de mim
Um sem fim de flashes luminosos
Que se cruzam e entrecruzam
Feitos esse outro eu
Onde com inteireza
Habita num torvelinho
Aquele que deveras sou
Antonius
quarta-feira, 2 de março de 2011
FONTE DE EMOÇÕES
A música
Aquela que eu anelo
Essa que tange a raiz do meu ser
Tem ganas de me emocionar
Até às lágrimas
É prenúncio de aurora
Chega a ser
Tal como o amor
A voz de Deus
Que ressoa em mim
Antonius
Grande Curva.
Acentuada é a curva da história
Neste tempo não sonhado em que vivemos
Creio não haver registo nem memória
Não ter sido nunca o mundo como o vemos
O progresso chega a ser deslumbramento
Num pasmo vêem os homens o que acontece
Pressentido parece ser o fermento
De algo que vai ser grande ou fenece
Entrou incrédula a minha geração
Nessa curva pelos homens não sonhada
A sentir começa a ter boa razão
De se indagar porque forças é levada
Desconcertante a curva desenhada
Que o homem foi pobre em discernir
Séria se mostra a curva nesta estrada
Inquire-se o homem acerca do devir
Fácil foi para o homem de antanho
Ver o mundo que se lhe seguiria
Pouco mais do que das terras o amanho
Era o que o seu pensar ao longe via
Nestes tempos porém para seu desnorte
A curva faz-se de interrogação
Não sabe se vai para sul ou para norte
Na mente se lhe derrama a confusão
Se a curva está no termo se pergunta
Pressentindo parecer de maior tino
A sua sorte não quer ver defunta
Aforra a sua esperança no destino
Neste tempo não sonhado em que vivemos
Creio não haver registo nem memória
Não ter sido nunca o mundo como o vemos
O progresso chega a ser deslumbramento
Num pasmo vêem os homens o que acontece
Pressentido parece ser o fermento
De algo que vai ser grande ou fenece
Entrou incrédula a minha geração
Nessa curva pelos homens não sonhada
A sentir começa a ter boa razão
De se indagar porque forças é levada
Desconcertante a curva desenhada
Que o homem foi pobre em discernir
Séria se mostra a curva nesta estrada
Inquire-se o homem acerca do devir
Fácil foi para o homem de antanho
Ver o mundo que se lhe seguiria
Pouco mais do que das terras o amanho
Era o que o seu pensar ao longe via
Nestes tempos porém para seu desnorte
A curva faz-se de interrogação
Não sabe se vai para sul ou para norte
Na mente se lhe derrama a confusão
Se a curva está no termo se pergunta
Pressentindo parecer de maior tino
A sua sorte não quer ver defunta
Aforra a sua esperança no destino
terça-feira, 1 de março de 2011
AMOR EM RÉ MENOR
Sou uma nesga de tempo projectada no desmesurado do Tempo
Meteorito em noite de estrelas cadentes
Madrugada de um dia que muito longe se anuncia
Mergulho no mais fundo de mim rondando a morte
Constelação sem estrelas, dormente
Sou um pedaço de mim que rasgou o tempo
Por fresta aberta no inicial magma
Rajada de vento que num momento
Serenou, pacificou, sem perda do fôlego
Sou mais forte do que eu, eu sei que sou
As minhas contas ultrapassei há muito
Perguntando-me se vou, sem saber se vou
Atrevo-me por caminhos não percorridos
Mais que em coragem invisto na suave brisa
Deixei de ser pedaço desse tempo sem medidas
Inteiro passei a ser cioso da inteireza
Vislumbrei constelações ainda ocultas
Pressenti por detrás do inicial meteoro
Acesas, incandescentes brasas
Do em ré menor, eternamente buscado amor
Antonius
Meteorito em noite de estrelas cadentes
Madrugada de um dia que muito longe se anuncia
Mergulho no mais fundo de mim rondando a morte
Constelação sem estrelas, dormente
Sou um pedaço de mim que rasgou o tempo
Por fresta aberta no inicial magma
Rajada de vento que num momento
Serenou, pacificou, sem perda do fôlego
Sou mais forte do que eu, eu sei que sou
As minhas contas ultrapassei há muito
Perguntando-me se vou, sem saber se vou
Atrevo-me por caminhos não percorridos
Mais que em coragem invisto na suave brisa
Deixei de ser pedaço desse tempo sem medidas
Inteiro passei a ser cioso da inteireza
Vislumbrei constelações ainda ocultas
Pressenti por detrás do inicial meteoro
Acesas, incandescentes brasas
Do em ré menor, eternamente buscado amor
Antonius
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Eternos Laços
Há um sentir que eu sinto
Cá dentro, dentro de mim
É que cá dentro de mim
Oh Deuses
Há um sentir que eu sinto
Esse sopro vital
Tornado virginal arroubo
É tudo aquilo que sou
O que deveras quero ser
Fogo aceso se tornara no meu peito
Jardim das flores que mais anelo
Fogo que arde e que eu elejo
Palpitante razão do meu viver
Esse sentir que eu sinto
E às vezes me tira de mim
É raiz, é fonte
È sempre e sempre a ponte
Que no mais prendado fulgor
Me embrenha nos laços
Do teu Amor
Antonius
Cá dentro, dentro de mim
É que cá dentro de mim
Oh Deuses
Há um sentir que eu sinto
Esse sopro vital
Tornado virginal arroubo
É tudo aquilo que sou
O que deveras quero ser
Fogo aceso se tornara no meu peito
Jardim das flores que mais anelo
Fogo que arde e que eu elejo
Palpitante razão do meu viver
Esse sentir que eu sinto
E às vezes me tira de mim
É raiz, é fonte
È sempre e sempre a ponte
Que no mais prendado fulgor
Me embrenha nos laços
Do teu Amor
Antonius
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
NA ROTA DE PASCOAIS
Às vezes tenho-me na conta de saudosista. Não sei se tem que ler-se pretensiosismo nesse conceito e digo isto por desde criança me habituar a ouvir dizer que Teixeira de Pascoais era um cultor do saudosismo. Não imagino que relação possa haver entre essa cultura por parte do grande Teixeira de Pascoais e o espírito saudosista que se passeia no meu sentir. Mas será essa circunstância ou coincidência que me fazem pensar e até temer que haja efectiva pretensão da minha parte.
Há uma coisa que é um facto e de que me orgulho: somos conterrâneos. Nascemos na mesma terra, a uns quinhentos metros um do outro, mas também a uns sessenta e tantos anos um do outro; talvez aqui com desvantagem para ele, que não terá chegado a conhecer coisas como a televisão, a internet, os telemóveis e todo um mundo fantástico de coisas que nos separam naquele lapso de tempo, mas também com vantagem sua justamente por se ter visto livre dessa chusma de dependências, que ainda não sei se fazem o homem mais feliz.
A verdade é que ele é um símbolo ou o maior símbolo do saudosismo em Portugal; e eu, na minha pequenez, não escapo a esse sentimento. A que atribuir essa coincidência, se de coincidência se trata? Ou será a natureza, o ar que se respira, a paisagem a mesma, o mesmo Marão e até o mesmo rio Tâmega a rasgar as entranhas da nossa comum terra.
Seja como seja, prevalece um orgulho cavo a esse respeito nas entranhas da minha alma.
Acontece que tive a dita de conhecer essa lídima figura na minha terra quando eu ainda adolescente. Recordo-o uma figura de aparência modesta, vestido de escuro, mas com uma expressão facial granítica como que a traduzir o Marão que o viu nascer. Tive até a honra, se assim se pode dizer, de ir ao seu funeral, vão lá perto de sessenta anos. Recordo-me de se dizer que o caixão foi feito à pressa por ter de ser feito com a madeira de determinado pinheiro que ele destinara para o efeito.
Porque eu tinha necessidade de, de vez em quando ir a Gatão (aldeia da casa de Pascoais) de mando do meu pai, acontecia de me cruzar com aquele ilustre conterrâneo junto à “taberna” do seu compadre. Nessas ocasiões ao passar junto dele, ia com a mão à boina num gesto de respeitoso cumprimento. Esse gesto e a correspondência da sua parte, tem ainda hoje para mim um significado de uma aproximação humana que deixou raízes. Não sei se foi aí que por ventura inalei alguma lufada de ar de Pascoais que me transmitiu uma réstia do seu sentir saudosista. Não um saudosismo acabrunhante, deprimente, mas antes acalentador de uma paz onde mora um sentimento de estranha esperança.
Pensar assim é para mim homenagear essa Grande figura de pensador e humanista cuja obra estou a tentar reler com extremo apreço.
Há uma coisa que é um facto e de que me orgulho: somos conterrâneos. Nascemos na mesma terra, a uns quinhentos metros um do outro, mas também a uns sessenta e tantos anos um do outro; talvez aqui com desvantagem para ele, que não terá chegado a conhecer coisas como a televisão, a internet, os telemóveis e todo um mundo fantástico de coisas que nos separam naquele lapso de tempo, mas também com vantagem sua justamente por se ter visto livre dessa chusma de dependências, que ainda não sei se fazem o homem mais feliz.
A verdade é que ele é um símbolo ou o maior símbolo do saudosismo em Portugal; e eu, na minha pequenez, não escapo a esse sentimento. A que atribuir essa coincidência, se de coincidência se trata? Ou será a natureza, o ar que se respira, a paisagem a mesma, o mesmo Marão e até o mesmo rio Tâmega a rasgar as entranhas da nossa comum terra.
Seja como seja, prevalece um orgulho cavo a esse respeito nas entranhas da minha alma.
Acontece que tive a dita de conhecer essa lídima figura na minha terra quando eu ainda adolescente. Recordo-o uma figura de aparência modesta, vestido de escuro, mas com uma expressão facial granítica como que a traduzir o Marão que o viu nascer. Tive até a honra, se assim se pode dizer, de ir ao seu funeral, vão lá perto de sessenta anos. Recordo-me de se dizer que o caixão foi feito à pressa por ter de ser feito com a madeira de determinado pinheiro que ele destinara para o efeito.
Porque eu tinha necessidade de, de vez em quando ir a Gatão (aldeia da casa de Pascoais) de mando do meu pai, acontecia de me cruzar com aquele ilustre conterrâneo junto à “taberna” do seu compadre. Nessas ocasiões ao passar junto dele, ia com a mão à boina num gesto de respeitoso cumprimento. Esse gesto e a correspondência da sua parte, tem ainda hoje para mim um significado de uma aproximação humana que deixou raízes. Não sei se foi aí que por ventura inalei alguma lufada de ar de Pascoais que me transmitiu uma réstia do seu sentir saudosista. Não um saudosismo acabrunhante, deprimente, mas antes acalentador de uma paz onde mora um sentimento de estranha esperança.
Pensar assim é para mim homenagear essa Grande figura de pensador e humanista cuja obra estou a tentar reler com extremo apreço.
COITA
A donde ias amada minha
Na brisa da matinal aurora
A donde ias sinhora a donde
Se teu amigo dormira fora
Pensa bem amada minha
Que razões minhas fortes houvera
Da fazedura me incumbira
Ficar na cama bem eu quizera
Mas razões pra ti não atino
longe o sol ainda se amostra
Tragado fico num desatino
E me pergunto se vida é a nostra
Atenta que de perdoar não sou
E “coita” rejeito em meu amar profundo
Antes a morte a desdita se venha
Antes leixar tan sujo mundo
Vais fremoza e insegura
Vais contrita em teu coraçon
Non sei se perdoar te irei
Vou inquirir de mim forte a razon
Antonius
Na brisa da matinal aurora
A donde ias sinhora a donde
Se teu amigo dormira fora
Pensa bem amada minha
Que razões minhas fortes houvera
Da fazedura me incumbira
Ficar na cama bem eu quizera
Mas razões pra ti não atino
longe o sol ainda se amostra
Tragado fico num desatino
E me pergunto se vida é a nostra
Atenta que de perdoar não sou
E “coita” rejeito em meu amar profundo
Antes a morte a desdita se venha
Antes leixar tan sujo mundo
Vais fremoza e insegura
Vais contrita em teu coraçon
Non sei se perdoar te irei
Vou inquirir de mim forte a razon
Antonius
O Sentir Que Me Invade
Mulher! Eu quero fugir à palavra mil vezes dita, à frase feita, àquela que todos usam e pela qual falam de si, dos seus sentires, às vezes ocultos no mais recôndito de nós. Mas por muito que queira fugir à palavra dita, à frase feita, não me é fácil inovar, fazer coisa minha, sobretudo no instante em que mais capaz me sinto para o fazer. Por muito que me esforce, aquilo que me surge em termos de palavras foi já dito ou pensado. Mas o que acontece e o que me importa nesta hora é o que eu diga ou pense, sobretudo o que sinta. Que me importa o que os outros tenham dito, pensado ou sentido? Eu só quero nesta hora, neste instante que quereria eterno dizer-te que te quero no limite do querer. Falar-te da força do sangue que invade os oráculos deste pobre coração – naquilo que foi mas já não é - , do quanto nessa mesma onda falam as veras da minha alma. Procuro e rebusco, quero encontrar mas apenas sinto, mas se sinto é isso o que me importa. Quero dizer por metáfora trazida até mim pelos caminhos da natureza e pelas rotas das estrelas, que não há lírios nos campos, não há urzes na montanha, não há ondas marinhas, nem cerros nevados que traduzam esse sentir profundo que nesta hora me invade. Mulher! Essa palavra mágica que transborda no coração do homem e só ele entende.
Antonius
Antonius
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Mistério
Eu nasci hoje. Quero dizer eu hoje ganhei uma consciência nova de que nasci, a certeza de que isso aconteceu. Não interessa que tenha sido hoje, interessa é que eu nasci. E se nasci e ainda não morri, eu estou vivo, e se estou vivo, alguma coisa tenho a fazer, de alguma coisa me incumbiu quem providenciou para que eu exista. Os meus pais tem culpa, ou melhor, devo-lhes o dom e a divida de me fazerem mexer e integrar nesta coisa que ainda me estou a perguntar se é fantástica, que é viver.
Acho que não tenho que me perguntar a esse respeito, porque acho que é mesmo fantástica. Mas atenção não é indolor viver.
Não sei se os meus pais, como intermediários que foram desse milagre que é a vida tem alguma responsabilidade pelo facto de eu viver. Acho que não, meros intermediários, sem terem que ter qualquer ciência para me por no mundo, e aí é que está o fantástico. É que eu sou fruto de um mero impulso, sublime impulso, mas que nem exigiu – ou terá exigido – qualquer tipo de ensaio ou preparação. O impulso aconteceu ditado, em princípio, por uma atracção física e mental – bastaria que fosse física – para que essa coisa fantástica que sou eu viesse ao mundo, isto é, acontecesse. Ninguém se escandalize por dizer-me fantástico, porque não me refiro a mim em exclusivo, mas a todos e cada um de nós sem excepção. Sim, o escultor e o marceneiro fazem trabalhos fabulosos, mas apesar da fábula que eles são, são coisa morta. A própria obra prima de Miguel Ângelo, apesar da martelada que o mestre deu para que desse sinais de vida, continua morta. Quero dizer, continua sem sinais de vida.
Eu e tu que me lês e todos aqueles, viventes (basta que sejam animais) pura e simplesmente vieram à vida fruto do impulso de que falei. Quero dizer: todos (em principio) sabemos e somos capazes de fazer filhos sem prévia aprendizagem do quer que seja. Do corriqueiro que isso é, nem nos damos conta da grandeza do que acontece.
Mas milagre, isso é que é.
Antonius
Acho que não tenho que me perguntar a esse respeito, porque acho que é mesmo fantástica. Mas atenção não é indolor viver.
Não sei se os meus pais, como intermediários que foram desse milagre que é a vida tem alguma responsabilidade pelo facto de eu viver. Acho que não, meros intermediários, sem terem que ter qualquer ciência para me por no mundo, e aí é que está o fantástico. É que eu sou fruto de um mero impulso, sublime impulso, mas que nem exigiu – ou terá exigido – qualquer tipo de ensaio ou preparação. O impulso aconteceu ditado, em princípio, por uma atracção física e mental – bastaria que fosse física – para que essa coisa fantástica que sou eu viesse ao mundo, isto é, acontecesse. Ninguém se escandalize por dizer-me fantástico, porque não me refiro a mim em exclusivo, mas a todos e cada um de nós sem excepção. Sim, o escultor e o marceneiro fazem trabalhos fabulosos, mas apesar da fábula que eles são, são coisa morta. A própria obra prima de Miguel Ângelo, apesar da martelada que o mestre deu para que desse sinais de vida, continua morta. Quero dizer, continua sem sinais de vida.
Eu e tu que me lês e todos aqueles, viventes (basta que sejam animais) pura e simplesmente vieram à vida fruto do impulso de que falei. Quero dizer: todos (em principio) sabemos e somos capazes de fazer filhos sem prévia aprendizagem do quer que seja. Do corriqueiro que isso é, nem nos damos conta da grandeza do que acontece.
Mas milagre, isso é que é.
Antonius
sábado, 19 de fevereiro de 2011
DENUNCIA
Não me importa do universo a grandeza
Tão pouco da Via Láctea a imensidão
Interessa-me das estrelas a singeleza
Do puro bom senso o galardão
Não me interessa do mundo a opulência
Se quer a ostensiva mansão
Toca-me sim a eloquência
Dos que falam a voz da razão
Não me quero pelos proventos aviltado
Ao pobre incapaz de dar a mão
Jamais pelo fausto esmagado
Mísero sentir o do meu coração
Detesto este mundo em que pelejo
E nele grassa a fome inclemente
Por muito que abra os olhos não cotejo
Ver do novo homem a semente
Abomino a rota que levamos
Os que deste tempo temos a herança
Por certo que bem caro pagamos
Em instalada e vã bonança
O que faz de mim intolerante
E me diz que o mundo não avança
É ver os olhos negros da negra fome
No labial tremular duma criança
De corruptos a nuvem transbordante
Levem-na os ventos para longe sem retorno
Não tenha mais oportunidade o meliante
De ver vir às suas mãos o vil suborno
Tão pouco da Via Láctea a imensidão
Interessa-me das estrelas a singeleza
Do puro bom senso o galardão
Não me interessa do mundo a opulência
Se quer a ostensiva mansão
Toca-me sim a eloquência
Dos que falam a voz da razão
Não me quero pelos proventos aviltado
Ao pobre incapaz de dar a mão
Jamais pelo fausto esmagado
Mísero sentir o do meu coração
Detesto este mundo em que pelejo
E nele grassa a fome inclemente
Por muito que abra os olhos não cotejo
Ver do novo homem a semente
Abomino a rota que levamos
Os que deste tempo temos a herança
Por certo que bem caro pagamos
Em instalada e vã bonança
O que faz de mim intolerante
E me diz que o mundo não avança
É ver os olhos negros da negra fome
No labial tremular duma criança
De corruptos a nuvem transbordante
Levem-na os ventos para longe sem retorno
Não tenha mais oportunidade o meliante
De ver vir às suas mãos o vil suborno
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
INSTANTE QUE SOU
Desde de sempre eu existi,
Remoto projecto na mente d’ Algo.
Há uma eternidade eu já era.
Nascem as pedras e os montes,
As estrelas no Firmamento.
Das montanhas nascem os rios
Em murmúrios de advento,
-E eu, mero projecto, distante…
Dos mares brota a vida,
E dos céus a ave que canta.
O ronco do leão rasga a floresta
E enquanto da esperteza o símio se ufana,
Um outro, dele, no intelecto se adianta.
Entretanto existe já o Tempo.
Tempo menino, criança,
Tempo que não anda – parado no Tempo
Mas o tempo avança, ainda que sem pressa,
Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios
-E eu, vago projecto ainda…
O homem não chegou ainda a homem.
Das planuras de Cro-Magnon
Vislumbra ao longe o Homem de Pequim.
Atarracado no porte e vesgo na inteligência
Prossegue o seu caminho, determinado,
Puxado por um tempo sem pressa
Feito de eternidades milenares.
A marca do futuro nas entranhas,
No sangue o gene da Evolução.
Ainda que por lapidar
Tomou já o comboio da Razão,
Que em marcha lenta
Percorre os caminhos da pré-História.
Vai só nas veredas do Futuro,
Tudo lhe ficando para traz
- Que ele é já Homem
-E eu, vago projecto remoto ainda…
Vencida a longa jornada que
Da pré-História traz o nome,
Ei-lo que faz a curva da História
A partir de onde,
Em doses mais e mais suculentas,
Lhe são servidas rações de civilização,
Que sorve entre frugal e ébrio.
São ainda as rectas milenares
Cruzadas por egípcios, gregos, persas.
Algures no Oriente Médio,
Surge nesta hora um Homem.
Os seus valores não são os dos outros homens,
A sua conduta intriga os do seu tempo.
Morrendo e vencendo a morte,
Subverte a ordem natural das coisas.
O seu elixir é o do amor
E o seu projecto é de Esperança.
-E eu, então, projecto ainda distante…
Ganhando velocidade,
Segue a sua rota o comboio da História
Galgando indómito as plagas do Tempo.
Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos
Os domínios se arrebanhando,
Em pleno e sucessivo derrubar.
A velocidade é agora vertigem,
Porque de vertigem passou a ser o Tempo
-E eu ainda, não mais que projecto…
Entretanto, subitamente, eu sou!
De projecto que fui por toda uma eternidade,
Do sonho que ainda era ontem,
Neste momento, eu sou... existo !
Momento único e inestimável
Este cruzar da Vida
Com a estrada desmedida do Tempo.
-Luz que mal brilha na noite da Eternidade,…
Até quando este instante ?
Antonius
Remoto projecto na mente d’ Algo.
Há uma eternidade eu já era.
Nascem as pedras e os montes,
As estrelas no Firmamento.
Das montanhas nascem os rios
Em murmúrios de advento,
-E eu, mero projecto, distante…
Dos mares brota a vida,
E dos céus a ave que canta.
O ronco do leão rasga a floresta
E enquanto da esperteza o símio se ufana,
Um outro, dele, no intelecto se adianta.
Entretanto existe já o Tempo.
Tempo menino, criança,
Tempo que não anda – parado no Tempo
Mas o tempo avança, ainda que sem pressa,
Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios
-E eu, vago projecto ainda…
O homem não chegou ainda a homem.
Das planuras de Cro-Magnon
Vislumbra ao longe o Homem de Pequim.
Atarracado no porte e vesgo na inteligência
Prossegue o seu caminho, determinado,
Puxado por um tempo sem pressa
Feito de eternidades milenares.
A marca do futuro nas entranhas,
No sangue o gene da Evolução.
Ainda que por lapidar
Tomou já o comboio da Razão,
Que em marcha lenta
Percorre os caminhos da pré-História.
Vai só nas veredas do Futuro,
Tudo lhe ficando para traz
- Que ele é já Homem
-E eu, vago projecto remoto ainda…
Vencida a longa jornada que
Da pré-História traz o nome,
Ei-lo que faz a curva da História
A partir de onde,
Em doses mais e mais suculentas,
Lhe são servidas rações de civilização,
Que sorve entre frugal e ébrio.
São ainda as rectas milenares
Cruzadas por egípcios, gregos, persas.
Algures no Oriente Médio,
Surge nesta hora um Homem.
Os seus valores não são os dos outros homens,
A sua conduta intriga os do seu tempo.
Morrendo e vencendo a morte,
Subverte a ordem natural das coisas.
O seu elixir é o do amor
E o seu projecto é de Esperança.
-E eu, então, projecto ainda distante…
Ganhando velocidade,
Segue a sua rota o comboio da História
Galgando indómito as plagas do Tempo.
Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos
Os domínios se arrebanhando,
Em pleno e sucessivo derrubar.
A velocidade é agora vertigem,
Porque de vertigem passou a ser o Tempo
-E eu ainda, não mais que projecto…
Entretanto, subitamente, eu sou!
De projecto que fui por toda uma eternidade,
Do sonho que ainda era ontem,
Neste momento, eu sou... existo !
Momento único e inestimável
Este cruzar da Vida
Com a estrada desmedida do Tempo.
-Luz que mal brilha na noite da Eternidade,…
Até quando este instante ?
Antonius
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Instantes
Há instantes que são eternidades, e é no mundo fantástico das emoções que eles acontecem. Por isso são exclusivo do animal homem.
Não são coisa que se procure se se quer encontrar, mas dádiva gratuita que acontece, se acontece. Se a buscamos, se lhe vamos no encalço, ela escapa-se-nos. Volatiliza-se.
Foi nessa cálida noite de junho, a roçar já a madrugada, que a tua voz veio ao meu encontro, quente e cristalina. No embalo dolente e deliciosamente bucólico de "Una Sañosa porfia", que inspirado autor medievo compôs para atravessar o tempo e encantar o gélido e sofisticado homem do século XX. Será que te lembras?
Recordas-te que, enquanto cantavas, a Lua deteve-se, também ela deslumbrada e enormemente cheia, no cucuruto da capelinha de S. Cristóvão, lá no alto da preciosa Penha? Ela, a Lua, recorda-se como se recorda de a ter escutado noutros tempos, noutras paragens, porventura nesta mesma viela desta velha cidade, por outras vozes, outras gentes.
Há instantes que são eternos. Mas que fugases eles são.
Nessa noite a tua voz chegou até mim com a frescura do orvalho das manhãs que prometem Sol. Transparente, líquido, na fluidez da água que se espraia e se esvai, enquanto tangia o núcleo esconso do meu sentir profundo, cravava em mim a lança cruenta e subtil do efémero, daquilo que precioso, no instante seguinte, definitivamente, não é já mais. Mas recordação dinâmica, que fica, que prevalece como valência enriquecedora do acervo que faz o nosso mundo interior e lhe determina o equilíbrio.
Que é feito de ti amiga minha? Que é feito da tua voz que me enfeitiçou e de que ouço ainda hoje em gratas ressonâncias?
Nos dias dessa noite eu atravessava o "grande deserto". Em redor de mim eram areias e pedras. Tudo o mais ou era recordação que me dilacerava, ou rumores de esperança num ainda possível amanhã. Porque estava no deserto, nessa noite foi Oásis. Não terás dado por ele porque não caminhavas no deserto. É que deserto é coisa que só se conhece quando pisamos o seu árido pântano e lhe respigamos o travo escaldante. Só então, também, os nossos pés estão em condições de sentirem e entenderem a frescura do Oásis.
Nessa noite, por instantes, os meus pés pisaram a relva.
antonius
Não são coisa que se procure se se quer encontrar, mas dádiva gratuita que acontece, se acontece. Se a buscamos, se lhe vamos no encalço, ela escapa-se-nos. Volatiliza-se.
Foi nessa cálida noite de junho, a roçar já a madrugada, que a tua voz veio ao meu encontro, quente e cristalina. No embalo dolente e deliciosamente bucólico de "Una Sañosa porfia", que inspirado autor medievo compôs para atravessar o tempo e encantar o gélido e sofisticado homem do século XX. Será que te lembras?
Recordas-te que, enquanto cantavas, a Lua deteve-se, também ela deslumbrada e enormemente cheia, no cucuruto da capelinha de S. Cristóvão, lá no alto da preciosa Penha? Ela, a Lua, recorda-se como se recorda de a ter escutado noutros tempos, noutras paragens, porventura nesta mesma viela desta velha cidade, por outras vozes, outras gentes.
Há instantes que são eternos. Mas que fugases eles são.
Nessa noite a tua voz chegou até mim com a frescura do orvalho das manhãs que prometem Sol. Transparente, líquido, na fluidez da água que se espraia e se esvai, enquanto tangia o núcleo esconso do meu sentir profundo, cravava em mim a lança cruenta e subtil do efémero, daquilo que precioso, no instante seguinte, definitivamente, não é já mais. Mas recordação dinâmica, que fica, que prevalece como valência enriquecedora do acervo que faz o nosso mundo interior e lhe determina o equilíbrio.
Que é feito de ti amiga minha? Que é feito da tua voz que me enfeitiçou e de que ouço ainda hoje em gratas ressonâncias?
Nos dias dessa noite eu atravessava o "grande deserto". Em redor de mim eram areias e pedras. Tudo o mais ou era recordação que me dilacerava, ou rumores de esperança num ainda possível amanhã. Porque estava no deserto, nessa noite foi Oásis. Não terás dado por ele porque não caminhavas no deserto. É que deserto é coisa que só se conhece quando pisamos o seu árido pântano e lhe respigamos o travo escaldante. Só então, também, os nossos pés estão em condições de sentirem e entenderem a frescura do Oásis.
Nessa noite, por instantes, os meus pés pisaram a relva.
antonius
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Para Ti
Não soube nunca não sei ainda
A que edénica fonte atribuir meu sonho
Mergulhei meu Estro no rio das águas mansas
Olhei a lua desnudada e bela
Retive meus passos e deslumbrado
Abri meu coração num assombro e senti
Despontar nas profundas do meu ser
O porquê do meu sonhar – o Amor
A que edénica fonte atribuir meu sonho
Mergulhei meu Estro no rio das águas mansas
Olhei a lua desnudada e bela
Retive meus passos e deslumbrado
Abri meu coração num assombro e senti
Despontar nas profundas do meu ser
O porquê do meu sonhar – o Amor
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
PORQUE EXISTO
Eu vivo porque penso, porque vejo, porque amo
Eu vivo porque sinto, porque escuto, porque temo
Porque tudo isso acontece, de tudo isso faço uma prece
Assim estou seguro de que existo
Eu carrego dúvidas mil
Perguntas eu pergunto tantas
Às vezes penso-me senil
Escutando longes mantras
Às vezes pergunto-me até quando
Do tempo a fúria perdura
Na busca da verdade eu ando
Buscando o remédio que dê cura
Antonius
Eu vivo porque sinto, porque escuto, porque temo
Porque tudo isso acontece, de tudo isso faço uma prece
Assim estou seguro de que existo
Eu carrego dúvidas mil
Perguntas eu pergunto tantas
Às vezes penso-me senil
Escutando longes mantras
Às vezes pergunto-me até quando
Do tempo a fúria perdura
Na busca da verdade eu ando
Buscando o remédio que dê cura
Antonius
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
RELANCE NA MADRUGADA
Vai alta a noite e o luar inunda as paredes azul anil do meu quarto. Óbvia sombra vai conquistando a parede do meu lado. É que do outro lado da minha cama, percorrido o lençol pela minha mão tacteante não encontra as teclas da cor do mel que cobriam o teu corpo ondulante, de quando em quando, sempre, vibrando no frémito do amor que outrora ambos conhecíamos, vivíamos, nos engolfava corpo com corpo, alma com alma, até ao êxtase, e repousando na merecida serenidade.
Enquanto assim vivo na lembrança, a sombra avança na parede do meu lado, que do outro lado não há ninguém. Ausência em cicatriz, num gesto violento arremesso o lençol que me cobre e a cobriria a ela, se ela houvesse e assomo num lanço à janela. Atiro os meus pensamentos ao largo num esforço de reformular os meus caminhos desta noite, tento aperceber-me de coisas novas, de algo por descobrir. Nesta noite fujo por medo do amor de nele centrar o meu pensar. Ergo o meu olhar e olho as estrelas e revejo a lua e noto que esta desde que há pouco acordei, andou, prosseguiu a sua rota, porventura rota milenar. As estrelas mudaram de sítio, a folhagem remexe. O dique o meu cão ladrou e deu uma corrida pelo quintal. Algo chamou a sua atenção que não a minha. Quer dizer que muita coisa mudou de sítio. Concluo que durante este pequeno espaço de tempo, justamente aconteceu tempo, o tempo andou. E o tempo andou porque as coisas mudaram de sítio, porque o cão correu, porque as folhas mexeram, porque ouvi já o canto de um cuco madrugador, porque a lua percorreu um espaço da esfera celeste. Neste pouco tempo aconteceu tempo. Mas eu tenho pressa em que o tempo aconteça e altere os meus dias, sobretudo as minhas noites e me dê oportunidade de estender o meu braço e encontrar as preciosas colinas, o delicioso fundego, o inenarrável encantamento da mulher que quero voltar a ter envolta em mim enlaçando-me, com quem preciosa harpa execute a mais bela melodia, o mais assombroso concerto.
Enquanto assim vivo na lembrança, a sombra avança na parede do meu lado, que do outro lado não há ninguém. Ausência em cicatriz, num gesto violento arremesso o lençol que me cobre e a cobriria a ela, se ela houvesse e assomo num lanço à janela. Atiro os meus pensamentos ao largo num esforço de reformular os meus caminhos desta noite, tento aperceber-me de coisas novas, de algo por descobrir. Nesta noite fujo por medo do amor de nele centrar o meu pensar. Ergo o meu olhar e olho as estrelas e revejo a lua e noto que esta desde que há pouco acordei, andou, prosseguiu a sua rota, porventura rota milenar. As estrelas mudaram de sítio, a folhagem remexe. O dique o meu cão ladrou e deu uma corrida pelo quintal. Algo chamou a sua atenção que não a minha. Quer dizer que muita coisa mudou de sítio. Concluo que durante este pequeno espaço de tempo, justamente aconteceu tempo, o tempo andou. E o tempo andou porque as coisas mudaram de sítio, porque o cão correu, porque as folhas mexeram, porque ouvi já o canto de um cuco madrugador, porque a lua percorreu um espaço da esfera celeste. Neste pouco tempo aconteceu tempo. Mas eu tenho pressa em que o tempo aconteça e altere os meus dias, sobretudo as minhas noites e me dê oportunidade de estender o meu braço e encontrar as preciosas colinas, o delicioso fundego, o inenarrável encantamento da mulher que quero voltar a ter envolta em mim enlaçando-me, com quem preciosa harpa execute a mais bela melodia, o mais assombroso concerto.
sábado, 22 de janeiro de 2011
Perscrutando o Nirvana
Às vezes sinto-me no cume do Nirvana, ao limite do prescrito para o poder de ascender do homem. Nessas alturas infinitas estendo o olhar que se alarga para além das estrelas e se esgota na via láctea, por ventura em similar nebulosa.
Penso ter atingido o cósmico termo, mas algo me diz que esse termo não é mais do que um principio de uma nova jornada para o sem-fim do espaço. Recuo o meu olhar com algum desalento, regressando às alturas do outrora sonhado Nirvana. Atiro desta feita o meu olhar para as profundezas que se revestem de um manto da cor da neve. Lá longe, mas não tão longe como a rota das estrelas, eu vislumbro os prados verdes, lá no fundo, onde nascem as montanhas, onde foi semeado e brotou o núcleo do ansiado cume onde me imagino neste instante que passa.
Do cume deste Nirvana há muito sonhado mas só agora alcançado, domino o universo na esfera que o meu sentir constrói. Se esse mundo que a minha razão não entende me deslumbra e apela para a minha inteligência e me faz mergulhar na frescura da pradaria que atapeta a base da minha montanha e se cobre de lírios e da urze do monte, neste instante e num repente desço às alturas que são as minhas, ao mundo que é o meu e que abarco com os olhos com que a natureza me dotou. É que o êxtase teria que ter um fim.
Imperativo era regressar ao meu sitio e à minha condição de mera criatura humana.
Na simplicidade deste sitio há também grandeza e, bem vistas as coisas, há razões de encantamento. Aqui nesta pradaria neste pequeno grande mundo está deposto um passado que não tem preço, o meu passado, aqueles que, uns após outros levaram à construção daquele que, insignificante embora, hoje sou.
Chega até mim uma harmonia que me enche os olhos me impregna a alma e me apura os sentidos. Essa harmonia chega-me de um passado remoto, atravessa o tempo, realiza o maravilhoso que se me depara. Mas tudo se converte em melodia, em música, que não é para ser vista por os meus olhos , mas os meus ouvidos escutam e o meu sentir estremece e lágrimas me assomam aos olhos.
Neste instante, sim neste instante, estranha contradição, é-me dada a consciência da grandeza que mora na minha pessoa, na pessoa de cada criatura. Sinto-me mergulhado na mais funda das emoções.
Penso ter atingido o cósmico termo, mas algo me diz que esse termo não é mais do que um principio de uma nova jornada para o sem-fim do espaço. Recuo o meu olhar com algum desalento, regressando às alturas do outrora sonhado Nirvana. Atiro desta feita o meu olhar para as profundezas que se revestem de um manto da cor da neve. Lá longe, mas não tão longe como a rota das estrelas, eu vislumbro os prados verdes, lá no fundo, onde nascem as montanhas, onde foi semeado e brotou o núcleo do ansiado cume onde me imagino neste instante que passa.
Do cume deste Nirvana há muito sonhado mas só agora alcançado, domino o universo na esfera que o meu sentir constrói. Se esse mundo que a minha razão não entende me deslumbra e apela para a minha inteligência e me faz mergulhar na frescura da pradaria que atapeta a base da minha montanha e se cobre de lírios e da urze do monte, neste instante e num repente desço às alturas que são as minhas, ao mundo que é o meu e que abarco com os olhos com que a natureza me dotou. É que o êxtase teria que ter um fim.
Imperativo era regressar ao meu sitio e à minha condição de mera criatura humana.
Na simplicidade deste sitio há também grandeza e, bem vistas as coisas, há razões de encantamento. Aqui nesta pradaria neste pequeno grande mundo está deposto um passado que não tem preço, o meu passado, aqueles que, uns após outros levaram à construção daquele que, insignificante embora, hoje sou.
Chega até mim uma harmonia que me enche os olhos me impregna a alma e me apura os sentidos. Essa harmonia chega-me de um passado remoto, atravessa o tempo, realiza o maravilhoso que se me depara. Mas tudo se converte em melodia, em música, que não é para ser vista por os meus olhos , mas os meus ouvidos escutam e o meu sentir estremece e lágrimas me assomam aos olhos.
Neste instante, sim neste instante, estranha contradição, é-me dada a consciência da grandeza que mora na minha pessoa, na pessoa de cada criatura. Sinto-me mergulhado na mais funda das emoções.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
A Beleza no Feminino
És a Lira que desde sempre almejo
As cordas dedilhando em delírio
És Oboé, violino, sonhado Beijo
Dos jardins da minha música eterno hino
És compasso, canção és melodia
Egrégio fazedor de nobres artes
No teu génio fiel a alegoria
Nas mãos a sabedoria de Descartes
Em tuas cordas a mais bela sinfonia
Executo entre incrédulo e surpreso
Sentir teus acordes é pura magia
É sentir o amor em fogo, aceso
Olhar-te é ver claro obra acabada
É ver da mulher símbolo perfeito
É sentir que acima não há mais nada
Que o belo a fazer está já feito
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Hoje Cruzei-me Comigo
Todos os dias passo por mim, mas nunca me olho. Decerto porque estou cansado de me conhecer, quiçá cansado de mim.
Hoje dei comigo olhos nos olhos e não sei que força me travou o passo. Mas parei e olhei-me e surpreendi-me comigo mesmo. De repente, quase tive dúvidas se era eu que estava ali na minha frente, mas logo vi que era.
Há traços, há curvas, diáfanos e imperceptíveis desenhos num rosto que o tempo não logrou desvanecer. Agora tudo é claro, apesar das remotas e profundas marcas do tempo. Marcas que neste instante não vejo, mas estarem vivas em mim, profundas e inapagáveis.
Naquele eu que está na minha frente, está esse outro eu de há muito, que tenho desconsiderado com a minha indiferença. Nesta hora, estou a gostar de me ver ainda não toldado pelas ditas e inexoráveis marcas. Só não gosto do meu cabelo. Tem a risca ao meio num rasgo quase simétrico, a conferir-me um ar que voga pelas bandas do caricato. Não, não gosto do meu penteado desse eu que tenho na minha frente. Mas estou a gostar de me ver, porque olhando-me desde aquele tempo, vejo toda uma vida transbordar de coisas, de acontecimentos, sentimentos, emoções. Eia, tanta coisa se passou comigo neste longo entretanto. Conheci horas felizes, mas conheci a amargura sem limites. Conheci a amizade mas acima de tudo cruzei-me e senti-me devorado pelo amor.
Acho que pela primeira vez e neste preciso instante, tenho consciência do que é o tempo, do que ele faz em nós, da oportunidade que ele nos dá de vivermos, afinal, daquilo que é estar-se vivo, isto é desfrutar da luz da janela da vida.
sábado, 1 de janeiro de 2011
DIA ÚNICO
SALVÉ O DIA 30/12/2010
Dia Único
Não foi no tempo das colheitas, em Setembro
Que a tua vida deu ao tempo esplendor
Foi o mês dos cumes brancos, foi Dezembro
Nascido no presépio, feito Amor
Não foi no tempo da ridente mimosa
Sob a sanha do calor estival
Mas no tempo da neve esplendorosa
Essa quadra única que é Natal
Bem digo hoje esse dia distante
Em que teu ser aportou da vida ao cais
És pátria formosa, és galante
Por sorte da minha vida o arrais
Fruto sumarento de um pomar
Do Éden feito matriz inspirada
Prendado ao sentir-te assomar
À janela do meu tempo, mulher amada
Antonius
PS.: Poema dedicado a Olema, pelo seu aniversário
Dia Único
Não foi no tempo das colheitas, em Setembro
Que a tua vida deu ao tempo esplendor
Foi o mês dos cumes brancos, foi Dezembro
Nascido no presépio, feito Amor
Não foi no tempo da ridente mimosa
Sob a sanha do calor estival
Mas no tempo da neve esplendorosa
Essa quadra única que é Natal
Bem digo hoje esse dia distante
Em que teu ser aportou da vida ao cais
És pátria formosa, és galante
Por sorte da minha vida o arrais
Fruto sumarento de um pomar
Do Éden feito matriz inspirada
Prendado ao sentir-te assomar
À janela do meu tempo, mulher amada
Antonius
PS.: Poema dedicado a Olema, pelo seu aniversário
Construamos o Futuro
CONSTRUAMOS O FUTURO
Um ano se passou arrepiante
Patente nele a turbulência
De mãos dadas caminhemos avante
Mortal não será do tempo a inclemência
Lugar para o medo não se consente
De coragem investido o caminhar
Não é a besta nos homens latente
Que vai altos sonhos aviltar
De angústia o tempo que decorre
Não nos deixemos por ele soçobrar
A força do homem de honra não morre
Porque o bom senso, esse há-de imperar
Mas há muros que travam o passo
Obstáculos que urge derrubar
Do lídimo caminhar o embaraço
Pontes que é tempo de lançar
Endeusado vemos o dinheiro
Indomada fonte de corrupção
Basta de ver nele o intuito primeiro
Motivo para muitos da falta do pão
Não seja tempo avaro o que vivemos
Que em riste pode ser posta a lança
Avante firmemente caminhemos
Que o futuro tem de ser de Esperança
Antonius
Um ano se passou arrepiante
Patente nele a turbulência
De mãos dadas caminhemos avante
Mortal não será do tempo a inclemência
Lugar para o medo não se consente
De coragem investido o caminhar
Não é a besta nos homens latente
Que vai altos sonhos aviltar
De angústia o tempo que decorre
Não nos deixemos por ele soçobrar
A força do homem de honra não morre
Porque o bom senso, esse há-de imperar
Mas há muros que travam o passo
Obstáculos que urge derrubar
Do lídimo caminhar o embaraço
Pontes que é tempo de lançar
Endeusado vemos o dinheiro
Indomada fonte de corrupção
Basta de ver nele o intuito primeiro
Motivo para muitos da falta do pão
Não seja tempo avaro o que vivemos
Que em riste pode ser posta a lança
Avante firmemente caminhemos
Que o futuro tem de ser de Esperança
Antonius
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